A Descoberta do Brasil Sancho Brandão
D. Afonso IV de
Portugal
07 de Fevereiro de 1325 -28
de maio de 1357
Entre 1325 e 1357 D. Afonso IV de Portugal concedeu o
financiamento público para levantar uma frota comercial e ordenou as primeiras
explorações marítimas, com apoio de genoveses, sob o comando de Manuel Pessanha. Em 1341 as ilhas Canárias, foram oficialmente descobertas sob o
patrocínio do rei Português. A sua exploração foi concedida em 1338
a mercadores estrangeiros, mas em 1344 Castela disputou-as, concedendo-as ao
castelhano D. Luís de la Cerda. No ano seguinte, Afonso IV enviou uma carta ao
Papa Clemente VI referindo-se às viagens dos portugueses às Canárias e
protestando contra essa concessão. Nas reivindicações de posse, sucessivamente
renovadas pelos dois povos, prevaleceu, no final, a vontade do rei de Castela
sobre estas ilhas.
Em 1353
foi assinado um tratado comercial com a Inglaterra para que os
pescadores portugueses pudessem pescar nas costas inglesas, abrindo assim caminho para o
futuro Tratado de Windsor em 1386.
As primeiras explorações marítimas permitiram cartografar e
estudar as correntes e ventos predominantes no Atlântico, o que deu a Portugal
um grande avanço cientifica relativamente as outras nações Europeias.
Como rei, D. Afonso IV é lembrado como um comandante militar
corajoso, daí o cognome de Bravo. A sua maior contribuição a nível económico e
administrativo foi a
importância dada ao desenvolvimento da
marinha portuguesa. D. Afonso IV subsidiou a construção de uma
marinha mercante e financiou as primeiras viagens de exploração Atlântica. As
Ilhas Canárias foram descobertas no seu reinado.
D. Afonso, cognominado o bravo, não se esqueceu do pedido
paterno. Cercado de homens de grande valor, como o fidalgo Diogo Pacheco, o
bispo do porto, e o almirante Peçanho, investiu contra o mistério dos mares. O
fracasso de várias tentativas não o demoveu de sua ideia.
A Viagem de Sancho Brandão
Desde 1339 que o nome do Brasil aparece em mapas e
planisférios. Os
portugueses sabiam muito mais sobre as terras situadas a Oeste do que
reconheciam publicamente. O continente sul-americano não foi descoberto por
acaso. Os navegadores da Ordem de Cristo já lá tinham estado antes.
Às expedições sucediam-se expedições. Um dia aportou em
Lisboa um dos capitães, Sancho Brandão.
Desgarrando-se no castigado por tempestades e impelido por
uma corrente misteriosa, o capitão Sancho abordara uma
nova terra, habitada por homens nus e opulenta em árvores de tinta vermelha.
Tentara contorná-la, navegando para o norte. Não o pôde, porém descobriu mais
ilhas. Carregando consigo alguns homens e algumas produções da terra, Sancho e
seus marinheiros velejaram para Portugal, ansiosos para incrustarem na coroa
portuguesa a glória do primeiro descobrimento nos mares do ocidente.
A viagem de Sancho Brandão pode ter sido uma das centenas de missões de puro
reconhecimento e estudo, visando sobretudo a Oceanografia e a Meteorologia,
efectuadas pelos Portugueses. Poderia ter como objetivo estudar os ventos e
correntes para Alem das Canárias.
Afonso IV baptizou a grande ilha
com o nome de Ilha do Brasil; indicando que era o local onde
encontrava-se a árvore pau-brasil.
Em 12 de fevereiro de
1343 como era de praxe, comunicou ao Papa Clemente VI (Pierre Roger 1291 –
6 de dezembro de 1352), o auspicioso acontecimento, em carta escrita de
Montemor-o-Novo. E assim se expressou: —
< <
Diremos reverentemente a Vossa Santidade que os nossos naturaes foram os
primeiros que acharam as mencionadas ilhas do occidente...– dirigimos para alli
(ilhas do occidente) os olhos do nosso entendimento, e desejando pôr em
execução o nosso intento, mandámos lá as nossas gentes e algumas náos para
explorarem a qualidade da terra, as quaes abordando as ditas ilhas, se
apoderaram, por força de homens, animaes e outras cousas e as trouxeram com
grande prazer aos nossos reinos>>
(Documento do Archivo Secreto do Vaticano, livro 138, folhas
148 e 149).Juntou-se á carta um mapa da região descoberta e nele se vê a
inscrição – Insula do Brasil ou de Brandam.
Juntou-se
à carta um mapa da região descoberta e nele se vê a inscrição: Insula de
Brasil; Desde então os portugueses monopolizaram o comércio do pau-brasil.
Tanto assim que, em documentos do século XIV constam os nomes Brasil ligado ao
de Portugal. Os Brasil de Portugal diziam os ingleses no fim do século
He locketh
as a sparhawk his eyen Him nedeth not his colour for to dyen With Brasil, no
with grain, of Portugal
E em 1376...
and Brasil
of Portugali
Possível Rota Sanches Brandão e a descoberta acidental do
Brasil.
Análise da Viagem
Desgarrando-se
do mar do ocidente, castigado pela tempestade
Pode muito bem ser uma tempestade Tropical
A época das tempestades tropicais no Atlântico, é entre o começo de Junho e o final de
Novembro.
Se a
Viagem teve início entre junho e outubro e muito possível ter encontrado uma
tempestade tropical.
e impelido
por uma corrente misteriosa,
Talvez a Corrente Equatorial do Norte e a Corrente das
Guianas desconhecidas na altura
A região do Atlântico equatorial é uma complexa região dominada pela
presença de correntes de grande escala para o oeste e contra correntes” e de
ventos, dependentes da época do ano, tempestades tropicais, e mais
moderadamente também se constatou a influencia do “El Niño” . Conhecimentos que
não existiam na altura.
Pelo que as descrições de Sancho Brandão são mais que
plausíveis “e impelido por uma corrente
misteriosa”.
Isto também quer dizer que a corrente das canarias não era misteriosa, e já era
do conhecimento dos Portugueses.
o capitão
Sancho alfim abordava uma terra magnífica, habitada por homens nus, opulenta em
árvores da tinta vermelha.
Talvez Terras do norte do Brasil, na região de Fortaleza ou
a norte desta
Tentara
contorná-la, navegando para o norte.
Corrente das Guianas
Não o pôde,
Poderá querer dizer duas coisas: Não encontrou os limites
norte da ilha ou as condições atmosféricas não o permitiam.
A primeira opção è a mais provável, pois o regime de
correntes e ventos facilitam a navegação para norte
porém
descobriu outras ilhas.
Corrente das Antilhas, talvez algumas ilhas das Antilhas ou
as ilhas dos Açores no regresso
Tavez tenham passado pelos Açores e descoberto algumas
destas ilhas
Ref. Em 2
de Março de 1450 o Infante de Portugal doou ao fidalgo flamengo Joe van den
Berge, natural de Bruges, e vulgarmente conhecido por Jacome de Bruges, umas ilhas açorianas. No documento de doação há uma referência
à descoberta por Sancho Brandão. (1342/1343?) Talvez na viagem de
regresso a Portugal.
As ilhas Flores e Corvo foram doadas em 1464 a uma senhora
de Lisboa, D. Maria de Vilhena. O flamengo Guilherme van den Haagen, em nome da
donatária, recebeu o documento de doação. Nesta também há uma referência à ilha do pau-brasil
Carregando
consigo alguns homens e algumas produções da terra, Sancho Brandão e seus
bravos marinheiros velejaram para Portugal,
Devem ter seguido a corrente do golfo passando pelos Açores
ansiosos para incrustarem na coroa portuguesa a glória do
primeiro descobrimento nos mares do Ocidente.
Orgulhoso
pela vitória conseguido e grato ao valente marujo que lhe dera uma terra nova,
Afonso IV batizou a grande ilha do pau vermelho com o nome de Ilha do Brasil ou
de Brandão.
Outras provas da
Viagem
Os grandes mapas do século XIV, posteriores a 1343, inserem
uma ilha no Oceano Atlântico, aproximadamente na posição actual da região
nordeste da América do Sul e com uma configuração semelhante à desta. Isso significa que após o ano de 1343 a
América do Sul foi explorada pelos portugueses e considerada uma possessão
(Ordem Cristo).
Em 1375, Carlos V, então Rei da França, determinou a um
cartógrafo de Maiorca que copiasse o mapa português, com ordens de também corrigir
e ampliar este mapa com base nas explorações efectuadas entre 1343 e 1375. Neste
mapa encontra-se a tal onde era encontrado o pau-brasil, com a conformação e
posição aproximada da América do Sul.
No mapa-múndi de Ranulf Nyggeden, elaborado em 1360, também
encontra-se o desenho da América do Sul, citada como ilha "Ilha do
Brasil". Encontra-se ele no British Museum, em Londres.
A América do Sul também aparece em outras importantes cartas
cartográficas, como a de Nicolao Zeno (ano de 1380), Bechario (1435) e Andrea
Bianco (1436 e 1448). Este último oferece uma explicação que elucida
perfeitamente o caso. Diz ele que a está distante do Cabo Verde, no mar
Atlântico, em cerca de 1500 milhas, ou seja, a actual distância aproximada do
Cabo Verde até a região mais oriental da América do Sul.
Em um Mapa de 1482, feito pelo cartógrafo Gracioso
Benincasa, em Ancona, em Itália, indicando:
· Costa portuguesa;
· Costa africana;
· Isola de Braçill»;
· «Antília».
Essa carta geográfica encontra-se na Biblioteca Nacional de
Paris (Etnografia, 11, 132.c.XVI) podendo nela ser vista a "ilha de
Brasil”, sua formação e localização geográfica na América do Sul. Neste mapa
encontra-se a tal "ilha", onde era encontrado o pau-brasil, com a
conformação e posição aproximada da América do Sul.
No mapa de Pêro Vaz Bisagudo que e uma copia de um antigo
mapa português enviado ao Vaticano também apresenta a ilha do pau-brasil a
distância de 1550 milhas do Cabo Verde. O bacharel João Martim, cosmógrafo e
médico da esquadra de Cabral, em carta ao rei de Portugal, datada de 01 de Maio
de 1500, indica ao seu soberano para procurar o Mapa Bisagudo que era muito
antigo, diz ele, e onde se encontraria a localização verdadeira da terra na
qual Cabral aportara, vejamos o texto original:
Quanto, Senor, el sytyo desta terra mande vosa alteza traer
um mapamundi que tyene pero vaaz bisagudo e por ahi podra ver vossa alteza el
sytyo desta terra, em pero aquel mapamundi non certifica esta terra ser
habytada ou no: és mapa mundi antiguo.
Ou seja, a esquadra de Cabral não apenas estava se
deslocando intencionalmente para o ocidente, aniquilando por completo a mentira
de que estaria tentando contornar a África para chegar à Índia, como também
conhecia a localização da América do Sul, o seu destino verdadeiro.
Com o nome "ilha do brasil" aparece no globo
terrestre de Martim Behaim, elaborado em 1487 e reproduzido na Alemanha em
1492, antes do "descobrimento da América" (a reprodução é de Março e
o descobrimento em Outubro).
Conclusão
Analogia com a viagem Pedro Alvares Cabral
A 9 de Março de 1500 zarpou de Belém
A 14 desse mês, a armada passou ao largo do
arquipélago das Canárias
(6 Dias)a 22 alcançou as ilhas de Cabo Verde, (+ 8 dias)
Entre os dias 29 e 30, a esquadra
encontrar-se-ia a 5º N (+
8 dias)
Ultrapassada a linha equinocial, por volta
de 10 de Abril, a rota terá sido corrigida para su-sudoeste, passando a frota a
cerca de 210 milhas a ocidente do arquipélago de Fernando de Noronha. (+ 10 dias)
Por volta do dia 18, a armada encontrar-se-ia
na altura da Bahia de Todos-os-Santos (13º S), ( +
8 dias) ……..
Frota de Pedro Alvares Cabral demorou 32 dias até Fernando
de Noronha.
Se a viagem se Sancho Brandão teve início em Junho e muito
possível que em Agosto tenha chegado ao Brasil.
Possível Fita do Tempo da viagem de Sancho Brandão
Se Sancho Brandão sai-se de Portugal em meados
de Junho 1342 (Fins Primavera inicio Verão)
Demoraria 6 dias até as Canarias, por volta
de 27-28 junho estaria ao largo das Canarias
Mais 10 dia até Cabo Verde, por volta de
10-11 Julho estaria ao largo de Cabo Verde
Quatro ou cinco dias depois apanhou uma
tempestade tropical que o obrigou a rumar para Sul 16-17 julho
Rumou novamente para ocidente impelido pelo
Corrente norte Equatorial e a Corrente das Guianas desconhecidas na altura
É muito possível que tenha aportado ao
norte do Brasil no início/meados de Agosto e 1342, talvez na região de
Fortaleza ou a norte desta.
Contornou o Brasil para norte seguindo a
corrente das Guinas
Posteriormente segui-o a corrente das
Antinhas avistou mais ilhas
Deve ter partido das Antilhas nos finais de
Novembro início de Dezembro
Chegou a Portugal antes de 12 de Fevereiro de 1343 única data
comprovada
Por isto
tudo acho muito possível que esta viagem tenha sido efectuada pelo Capitão
Sanches Brandão
Quais as razões da viagem de Sancho Brandão
Sancho Brandão deve ter sido dos primeiros capitães formado
na Escola de Capitania fundada em Tomar pela ordem Cristo/Templários.
Várias razões podem ter dado origem a esta viagem:
- Estudo das correntes para além das Canarias
- Comprovação de alguma carta já existente
muita antiga de origem Templária
- O puro acaso, ter sido arrastado por
correntes????
Com uma embarcação com estas características das usadas na altura é tecnicamente
possível efectuar uma viagem ao Brasil com toda a segurança.
Obs. Devo lembrar
que um pescador Algarvio na década de 50, emigrou para o Brasil com a namorada
utilizando um barco a remos de pesca “Chata”, e demorou cerca de dois meses na
travessia.
Num veleiro com cerca de 12 metros demora-se 6 dias ate as
Canarias 8 dias das Canarias a Cabo Verde e 25 dias ate Porto Seguro,
Outros Factos
relevantes param a época
Em 1347 ocorreu um sismo que abalou Coimbra, tendo causado
enormes prejuízos, e em 1348 a peste negra, vinda da Europa, assola o país.
De
todos os problemas foi a peste a mais grave, vitimando grande parte da
população e causando grande desordem no reino. O rei reagiu prontamente,
tendo promulgado legislação a reprimir a mendicidade e a ociosidade.
Durante o período de 1357 a 1383 poucas referências existem
a grandes viagens no entanto, foram efectuadas viagens de caris científicos.
Outras Viagens a Costa
do Brasil
Em 1438 um Naufrágio dum navio português na "Ilha Fernando de Noronha".
A principal prova é o Mapa de Andrea Bianco, datado de 1448, baseado em informações
recolhidas em Portugal, o
que prova que antes desta data houve varias viagens a Costa do Brasil
Em 1471 A descoberta do Brasil foi
concluída. A partir deste ano sucedem-se os relatos de viagens de
exploração da costa brasileira.
Viagem de Fernando Telles (1473)
Em 1473 chegou em
Lisboa o açoriano Fernando Telles,
mostrou o seu roteiro e apresentou o mapa duma longa costa, com muitas ilhas, furos
e rios, declarando que essa costa pertencia à grande ilha das sete cidades. Era a costa do Norte do Brasil,
entre Maranhão e Ceará, com o delta do rio Parnaíba.
Viagem de João Coelho (1476)
Em 1476 João Coelho visita algumas ilhas das Caraíbas; ia a bordo de
um dos seus navios um marinheiro de nome, Salvador Fernandes Zarco, futuro
Cristóvão Cólon pseudónimo ou firma, utilizado ao serviço de Espanha
a partir de 1492. (Segundo o próprio
Colon, ele terá nascido em 1447 pelo que teria cerca de 29 anos).
Viagem de Pero Vaz da Cunha " Bizagudo". (1487)
O navegador Gonçalo Coelho, em 1487, desembarcando na foz do rio Senegal, travou relações com o
Príncipe Bemoín, a quem disputavam a sucessão ao trono daquele Estado. Por
isso, quando Coelho voltou a Portugal, o Príncipe mandou com ele uma embaixada
a D. João II, para pedir armas e navios.
Escusou-se o Rei, alegando que a Igreja proibia tal
fornecimento aos infiéis. No ano seguinte, 1488, tendo Bemoín sido atraiçoado
por alguns dos apaniguados, foi expulso do Reino do Senegal, mas decidido a
dominar a revolta, embarcou numa caravela portuguesa a veio a Portugal suplicar
o auxílio do monarca.
D. João II recebeu-o com honrarias adequadas um príncipe,
dedicou-lhe festejos e foi seu padrinho de baptismo, passando o senegalês a
chamar-se como ele João. Por este triunfo de conversão, o Soberano armou o
Príncipe "Cavaleiro" e apressou-se a transmitir a notícia ao Papa
Inocêncio VIII.
Depois, enviou uma forte esquadra de 20 navios a escoltar o
recém-baptizado João. Era
comandada por Pero Vaz da Cunha "
Bizagudo", seguindo nela João Coelho e um frade dominicano,
Mestre Álvaro, que encabeçava um grupo de clérigos com a missão de
evangelizarem os indígenas. Contudo ao chegarem ao Senegal, Pero Vaz da Cunha
"Bizagudo", assassinou o Príncipe de Bemoín e regressou com a
esquadra a Portugal passando pelo Brasil.
Pedro Vaz da Cunha, o Bizagudo, em 1487, partindo
de São Jorge da Mina no Gana - dirigiu-se para a costa do Brasil, onde terá
feito o primeiro mapa das suas costas. Há notícia que no mesmo ano João Fernandes Andrade fez idêntica viagem.
Segundo Rui de Pina e
Garcia de Resende, o "Bizagudo" não foi punido,
"(...) por não querer El-Rei envolver no crime outros
culpados(...)
Esta sentença foi logicamente interpretada como uma
dissimulação real, devendo-se o perdão a uma proeza marítima que Pero Vaz da
Cunha tivesse recentemente cometido e que lhe valera a nomeação de comandante
da frota embaixada.
Quando Pedro Álvares Cabral, em 1500, largou de Lisboa com
destino à Índia, mas também com a missão primordial de oficializar
a descoberta do Brasil, levava uma pequena nau de mantimentos, tão
frágil que não poderia suportar com a passagem do Cabo das Tormentas, Boa
Esperança, e já fora, à partida, programada para regressar ao Reino com a
notícia do "redescobrimento".
O seu comandante, André Gonçalves, foi portador de 2 cartas
para D. Manuel I. Uma de Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada, e outra, do
baixarel Mestre João, "cristão-novo" e cirurgião do rei, que foi com
Álvares Esteves o primeiro a observar e a representar graficamente a
constelação do "Cruzeiro do Sul", no hemisfério austral.
Do relatório de Caminha, ao descrever a rota para o Brasil,
consta:
" E assim seguimos o nosso caminho por este mar, de longo, até que
terça feira das Oitavas da Páscoa, que foram a vinte e um dias de Abril,
estando a ilha de S. Nicolau do arquipélago de Cabo Verde a obra de 600 ou 670
léguas, segundo os pilotos diziam, topámos alguns sinais de terra (...)
Portanto a "terra" demandada tinha surgido "
no nosso caminho", do lado oposto do Oceano Atlântico, numa volta "
de longo", propositadamente exagerada. E narra:
" Enquanto andávamos nessa mata a cortar lenha, atravessavam
alguns papagaios por essas árvores, deles verdes e outros pardos, grandes e
pequenos, de maneira que me parece haverá muitos nesta terra (....)" .
E mais adiante acrescenta " Trouxemos papagaios
verdes", nos quais decerto se inspirou o cartógrafo que iluminou o "
Planisfério d'Este" os de "Cantino". E aqui temos a origem da
pseudo originalidade do topónimo " Terra dos Papagaios" das
"lettere" publicadas por Francesco Montalbodo em 1507 e atribuídas a
Vespúcio. Os papagaios verdes tinham vindo para Lisboa, despertando interesse.
Na outra mensagem enviada ao Rei por Mestre João, se informa:
" (...) Quando,
Senhor, ao sítio desta terra, mande Vossa Alteza trazer um mapa-múndi que tem
Pero Vaz da Cunha, " Bizagudo" e por aí poderá ver Vossa Alteza o
sítio desta terra; mas aquele mapa-múndi não certifica se esta terra é habitada
ou não. É um mapa-múndi antigo ".
Por conseguinte, já existia no Reino um " mapa
antigo", que delineava o litoral brasileiro, decerto com alguns topónimos
como era usual, mas que fora traçado antes de uma exploração pelo interior em
que tivessem avistado indígenas. E permite-nos depreender que o reconhecimento da orla marítima da
" Terra de Vera Cruz" se devesse ao próprio Pero Vaz da Cunha "Bizagudo" ou a outro português, Gonçalo Coelho, nomeado por Jean de Léry.
Um
importante mapa, o de Pero Vaz Bisagudo, que era cópia do primeiro mapa
português de registro oficial da nova terra descoberta (existente no Vaticano),
no qual a "Ilha do Brasil" situava-se a 1550 milhas de Cabo Verde. É
o mesmo mapa mencionado numa carta enviada ao Rei Dom Manuel, pelo cosmógrafo e
médico da Armada de Cabral, João Martim, datada de 1º de maio de 1500, na qual
este sugere que o soberano português procure "no mappa de Bisagudo, a
verdadeira situação da terra que Cabral descobriu de novo" (Esta carta
está na Torre do Tombo, em Lisboa, em "Corpo Chronológico", parte 3,
maço 2, documento nº 2).
Viagem de João Coelho (1487) (1487)
O historiador francês Jean de Lévy, estando no Brasil de
1556 a 1558, registou depoimentos dos mais antigos e considerou ser o
continente centro Sul americano ".... a quarta parte do mundo, já
conhecida dos portugueses desde cerca de oitenta anos que foi primeiramente
descoberta" .
Chama ao Brasil " Terra de Gonçalo Coelho ".
Por
este cálculo se conclui que a costa brasileira teria sido abordada pela primeira
vez em 1487.
Estêvão Fróis, em 1514, tendo sido preso pelos Espanhóis sob
a acusação de se achar instalado em território atribuído a Castela pelo Tratado
de Tordesilhas, escreveu ao rei D. Manuel I, pedindo que o resgatasse e
justificando que se limitara a ocupar
" a terra de Vª Alteza, já
descoberta por João Coelho, o da Porta da Luz, vizinho de Lisboa, há vinte anos
e um ".
Isto significa que o invocado navegador teria atingido
aquela região - actual Venezuela - em 1493, no prosseguimento da descoberta do
seu primo direito Gonçalo Coelho. Por conseguinte os Portugueses vogavam por aquelas águas muito antes
de Cristóvão Colon, que só atingiu a " Punta de Hierro " na 3ª viagem
de 1498. E também - pelo menos - 5 anos antes da de Alonso de Hojeda e 6 anos
antes, em relação à fantasiada expedição de Américo Vespúcio.
Duarte Pacheco Pereira, fornece uma informação geográfica
que permite localizar a região onde Estêvão Fróis fora preso, já que, depois de
indicar a rota, diz:
"...no ano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e noventa e oito,
donde é achada e navegada uma tão grande terra firme, com muitas ilhas
adjacentes a elas ".
Só poderia tratar-se do arquipélago constituída pelas ilhas
Margarita, Tortuga, Culeja, Coche e ilhéus venezuelanos, a oriente de Caracas e
a ocidente da " Punta de Hierro". A mesma que S.F.Zarco “Colon” abordara,
afirmando ser " terra firme ", embora não a tivesse contornado e poderia
ser de uma pequena ilha.
Na mencionada 3ª viagem de 1498, Colon, em vez de seguir a
rota habitual das ilhas Canárias para a Espanhola - República Dominicana -
principal base das Caraíbas, inflectiu para Sul, permanecendo 2 dias no
arquipélago de Cabo Verde, onde contactou com portugueses.
E Las Casas relata:
" Torna o Almirante a dizer que quer ir para o Sul das Caraíbas,
porque quer ver a intenção do Rei Dom João de Portugal, por certo, que dentro
dos seus limites de Castela havia de achar coisas e terras famosas".
Noutras passagens refere explicitamente as viagens que antes
de 1495 os portugueses faziam a Ocidente, nomeadamente ao Brasil (cfr. Jaime
Cortesão, A Colonização do Brasil, p.27-32).
Gonçalo Coelho chegou à altura do polo Antártico, a 53 graus, "tendo encontrado grandes frios no mar". Terá também chegado ao arquipélago das Maldivas ou Falkand.
Vasco da Gama (1497)
Vasco
da Gama, em Julho de 1497, quando partiu em direcção à Índia, foram-lhe
dadas instruções precisas para se aproximar das costas do Brasil, mas sem
aportar. O relato de um
dos pilotos, o célebre "Piloto Anónimo", é muito claro ao identificar
que estavam a navegar junto a terras a Ocidente, mas que não correspondiam à
India, pois não tardaram em afastar-se das mesmas navegando para Oriente (Cabo
da Boa Esperança).
Na "Relação da Viagem", em Agosto de 1497, regista
indícios muito claros de terras no poente: "indo na volta do ... a Sul e a
quarta do Sudoeste, achámos muitas aves, feitas como garções, e, quando veio a
noite, tiravam contra Susoeste muito rijas, como aves que iam para terra".
Noutras
passagens refere explicitamente as viagens que antes de 1495 os portugueses
faziam a Ocidente, nomeadamente ao Brasil (cfr. Jaime Cortesão, A
Colonização do Brasil, p.27-32).
Investigações
recentes dão conta de uma expedição portuguesa que entre Dezembro 1498 e Maio
de 1499 explorou profundamente o Amazonas, através do curso do rio designado
por "Colpho Grande" até cerca de 500 milhas do mar, reconhecendo as
embocaduras do Rio Pará e Tapajós.
A descoberta foi realizada com base na análise da
cartografia da época (mapas de Pesaro, Egerton Ms 2803 e Roselli, de origem
portuguesa, transmitidos a Espanha e Itália por Vespucio e outros) , mas também
com base em fontes espanholas.´
A conhecida expedição de Vicente Yanes Pinzón e Diego Lepe,
que em fins de 1499, alegadamente terá tocado no território brasileiro,
encontra no mesmo uma cruz colocada por anteriores expedições portuguesas (cfr.
Alfredo Pinheiro Marques, Portugal e o Descobrimento do Atlântico, p.108).
Viagem de Duarte Pacheco Pereira (1498)
Duarte Pacheco
Pereira, em 1498, fez
uma longa viagem de exploração não apenas pelas costas do Brasil, mas também
pela da Venezuela, deixando-nos um relato preciso do facto. O seu
objetivo parece ter sido o de identificar na costa brasileira do Amazonas, o
ponto na Foz do Turiaco onde passava o meridiano do Tratado de Tordesilhas. Terá atingido este lugar entre
Novembro ou Dezembro de 1498, constatado que o mesmo em termos estratégicos não
interessava a Portugal, o que levou a ocultar a expedição durante vários anos.
Viagem
de Duarte Pacheco Pereira em 1498: ao
Atlântico Sul e exploração da costa americana ao norte do Amazonas. Em
1498, D. Manuel mandou secretamente o capitão Duarte Pacheco Pereira explorar a
América do Sul e verificar a sua posição astronómica. Duarte se reporta ao D.
Manuel nos seguintes termos
E por tanto, bem-aventurado Príncipe, temos sabido e visto como no
terceiro ano de vosso Reynado do hano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e
noventa e oito, donde nos vossa Alteza mandou descobrir a parte oucidental,
passando além da grandeza do mar ociano, honde he achada e navegada huma tam
grande terra firme com muitas e grandes Ilhas adjacentes e ella que se estende
a setenta graaos de Ladeza da linha equinocial contra o polo arctico..... por
esta costa sobredita do mesmo circulo equinocial em diante por vinte e oyto
graaos de Ladeza contra o polo antarctivo he achado nella munto e fino brasil, com outras muitas couzas de que os
navios deste Reyno vem grandemente carregados.
Ao citar as coordenadas da terra com abundante e fino
pau-brasil, Duarte Pacheco não deixa dúvidas que se tratávamos da América do
Sul.
Duarte Pacheco regressou a Portugal e, posteriormente,
serviu de guia na viagem de exploração de Pedro Álvares Cabral. Estranhamente
(e misteriosamente) os livros de história brasileiros não citam a presença de
Pacheco na expedição de Cabral
Pêro
Vaz de Caminha em sua carta de 1º de Maio de 1500 diz
e assy seguimos nosso caminho por este mar, de longo, até
terça-feira de oitavas de paschoa, que foram vinte e um dias de Abril, que
topamos alguns signaes de terra.
Navegar de longo no linguajar da época, significava;
atravessar; Assim a esquadra de Cabral saiu de Lisboa para atravessar o Oceano
Atlântico e não para costear a África ou dela se afastar ligeiramente com
receio de calmaria, como conta a história oficial
Também cabe ressaltar que em nenhum momento do percurso a
esquadra de Cabral foi atingida por tempestades que os impelissem à uma mudança
no plano elaborado em Lisboa
Texto de Duarte
Pacheco Pereira sobre suas descobertas na América do Sul em 1498 (2 anos antes
de Cabral), tendo viajado até 28º 30' S (próximo ao Cabo de Santa Marta Grande
Noutras passagens refere explicitamente as viagens que antes
de 1495 os portugueses faziam a Ocidente, nomeadamente ao Brasil (cfr. Jaime
Cortesão, A Colonização do Brasil, p.27-32).
Investigações
recentes dão conta de uma expedição portuguesa que entre Dezembro 1498 e Maio
de 1499 explorou profundamente o
Amazonas, através do curso do rio designado por "Colpho Grande" até cerca de 500 milhas do mar,
reconhecendo as embocaduras do Rio Pará e Tapajós.
A descoberta foi realizada com base na análise da
cartografia da época (mapas de Pesaro, Egerton Ms 2803 e Roselli, de origem
portuguesa, transmitidos a Espanha e Itália por Vespucio e outros), mas também
com base em fontes espanholas.´
A conhecida expedição de Vicente Yanes Pinzón e Diego Lepe,
que em fins de 1499, alegadamente
terá tocado no território brasileiro, encontra
no mesmo uma cruz colocada por anteriores expedições portuguesas (cfr. Alfredo Pinheiro Marques,
Portugal e o Descobrimento do Atlântico, p.108).
O roteiro anónimo da 1ª. Viagem de Pedro Alvares Cabral à
India (1500-1501), descreve a aproximação
intencional da armada às costas do Brasil, de modo a oficializar a sua
descoberta. Na
esquadra de 12 navios seguia um pequeno navio, uma caravela, que tinha como
objetivo aportar ao Brasil, e formalmente registar a posse do território e
regressar de imediato a Portugal, o que foi feito.
Brasil,
e formalmente registar a posse do território e regressar de imediato a
Portugal, o que foi feito.
Estratégia montada
por D. João II
Toda a estratégia montada por D. João II, envolvendo o
próprio Cristofõm Colon, ou Cristóvão S.F.Zarco “Colon”ou Salvador Fernandes
Zarco, mais conhecido pelo nome falso de "Colombo", pressupõe o
conhecimento de terras a Ocidente antes de 1492. Os testemunhos são abundantes,
não apenas de portugueses, mas também dos italianos, espanhóis e
franceses.
A
descoberta do Brasil está ligada ao conhecimento pelos portugueses das
correntes e ventos do Atlântico Sul, o que foi concluído em 1471. A
partir deste ano sucedem-se os relatos de viagens de exploração da costa
brasileira.
Os navios que se dirigiam para Sul de África, ao passarem
perto da Guiné, constatavam que levavam muito menos tempo quando se afastavam
da costa africana e navegavam perto da costa da América do Sul. Esta rota foi a
rota seguida, em 1497, por Vasco da Gama.
Os navios que regressavam do Sul de África, em direcção a
Lisboa, eram empurrados para o Brasil. O tempo de navegação era também muito
menor se navegassem perto do Brasil. Esta passou a ser a rota recomendada.
A descoberta do Brasil terá ocorrido acidentalmente, por
volta de 1448. A principal prova é o Mapa de Andrea Bianco, datado de 1448,
baseado em informações recolhidas em Portugal. Nesta mapa aparecem representados
os descobrimentos portugueses no Atlântico Sul, até Cabo Verde e o Rosso (cabo
Roxo). A Sudoeste das ilhas de Cabo Verde e Rosso surge uma grande terra, com a
seguinte inscrição: "Ixola Otinticha xe longa a poniènte 1500 mia" (
Ilha Autêntica a poente à distância de 1500 milhas). O Brasil fica exactamente
a 1520 milhas a poente das ilhas de Cabo Verde. A Ilha representada ajusta-se
completamente à costa brasileira.
A corte portuguesa depois da morte do Infante D. Fernando,
em 1470, procurou controlar as expedições para Ocidente no hemisfério Sul,
impondo crescentes limitações às expedições nessa direcção, nomeadamente de
portugueses.
D. Afonso V, desde
1471, atribui ao principe e futuro rei D. João II, a responsabilidade da Guiné,
proibindo em 1474 que alguém fizesse uma viagem para os mares da Guiné,
qualquer que fosse o nome que dessem a estes mares, sem a autorização do
principe. A coroa portuguesa já em 1.10.1470 havia chamado a si o monopólio de
vários produtos obtidos nestas terras e mares: pedras preciosas, goma-laca e
pau-brasil...
O francês Jean de Léry que visitou o Brasil de 1556 a 1558,
registou os depoimentos de antigos colonos, que lhe confirmaram que "a
quarta parte do mundo, já era conhecida dos portugueses desde cerca de oitenta
anos que foi primeiramente descoberta". A descoberta teria ocorrido,
portanto, em fins da década de 70 do século XV.
No Tratado de Alcáçovas de 1479, Portugal em troca das
Canárias garante a soberania dos mares e e terras a Sul deste arquipélago. No
ano seguinte, nas novas negociações com Castela / Espanha introduz no texto do Tratado de Toledo de
1480, uma emenda que lhe garante também a soberania sobre as terras que ficavam
a Ocidente das Canárias, isto é, o Brasil. Este facto revela, segundo o
historiador espanhol Juan Manzano y Manzano que os portugueses conheciam a sua
existência nesta altura.
Pedro Vaz da Cunha, o Bizagudo, em 1487, partindo de São
Jorge da Mina no Gana - dirigiu-se para a costa do Brasil, onde terá feito o
primeiro mapa das suas costas. Há notícia que no mesmo ano João Fernandes
Andrade fez idêntica viagem.
João Coelho de Lisboa, também em 1487, comandou uma
expedição ao Senegal, na ida ou na vinda terá aportado às Indias. A afirmação é
de Estevão Fróis, em 1513, que foi preso pelos espanhóis no Haiti (Hispaniola),
território que segundo o Tratado de Tordesilhas pertenceria a Espanha.
Por não concordar com a prisão, escreveu a D. Manuel I,
afirmando que estava a ocupar terras que pertenciam a Portugal: "a terra
de Vª. Alteza, já descoberta por João Coelho, o da Porta da Luz, vizinho de
Lisboa, há vinte anos e um". A expedição não foi em 1494, mas em 1487
conforme se comprova por documentos régios.
Colon, em 1498, quando se dirigiu para Sul das Ilhas de Cabo
Verde, afirmou que ía à procura do continente que D. João II lhe falara existir
a Ocidente. Esta conversa só podia ser anterior a 1488.
Os
tripulantes de um navio francês, aprisionado em 1532 quando regressava
clandestinamente do Brasil, afirmam que tinham provas que os portugueses
estavam estabelecidos nesta região do mundo antes de 1491.
O espião inglês Robert Thome, informa Henrique VII, em 1527,
que os portugueses antes de S.F.Zarco “Colon”: "O rei de Portugal já tinha descoberto algumas ilhas
que estão contra as ilhas de Cabo Verde, e também uma certa parte do continente
em direcção ao Sul, a que se chamava Brasil".
Nos anexos à Crónica de Nuremberg de 1493, diz-se que Martin
Behain, havia navegado na companhia de "Jacob Carnus de Portugal" ao
Sul da linha do Equador ao "alter orbis", isto é, "Outro
Mundo", a que na denominação romana se designava antípodas. S.F.Zarco
“Colon”também se referiu ao continente que encontrou na Venezuela, como
"alter Orbis", e outros depois usaram o mesmo nome para designar a
actual América do Sul.
Colon,
quando a 6 de Setembro de 1492, zarpou de La Gomera (Gomeira, Canárias) na
direcção da "India" (América), é informado que três caravelas de
Portugal estavam perto da Ilha de Ferro (Isla del Hierro), isto é, entre as
Canárias e o continente americano, para controlarem a sua expedição, de forma a
garantirem que não entrava nos domínios definidos no Tratado de
Alcáçovas-Toledo (1479-80), que abrangia grande parte da América do Sul.
O Brasil, segundo o historiador espanhol Juan Manzano y
Manzano, teria sido descoberto pelos portugueses em fins do Verão ou Outono de
1493.
É cada vez mais consensual que Portugal já conhecia a
existência do Brasil, antes de 1492 mas a verdade é que não tinha condições
para assegurar estes vastos territórios dadas as guerras que mantinha com
Castela, nomeadamente pelo controlo do Norte de África e a costa da mina
(Gana), a sua principal prioridade.
Afonso Gonçalves, piloto, em Novembro de 1494, zarpou na
direcção do Brasil, tendo sido recompensado por carta régia de 11.6.1497 (menos
de um mês antes de embarcar na armada de Vasco da Gama).
Nas negociações do Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494,
Portugal fez mais uma vez questão de contemplar o domínio absoluto deste vasto
território. A justificação dada pelos negociadores portugueses foi que os
navios vindos do Cabo da Boa Esperança precisavam de espaço para fazerem
manobras, daí terem exigido 370 léguas a Ocidente das ilhas de Cabo Verde. A
verdade era outra, como o próprio S.F.Zarco “Colon”escreverá.
Durante as conversações
deste Tratado os reis católicos informaram S.F.Zarco “Colon”que os portugueses
sabiam de um continente localizado a Ocidente entre o cabo da Boa Esperança e o
paralelo das Canárias, o que corresponde ao actual Brasil.
O próprio Colon, em Agosto de 1498, escreve com toda a
clareza que se dirigiu das ilhas de Cabo Verde na direcção do Brasil por cinco
razões:
A averiguar da terra firme, continente, que
D. João II lhe falara existir a "austro", isto é, a Sudoeste.
Os conflitos durante as negociações com Castela
deveram-se ao facto de Portugal, pretender assegurar a posse deste continente.
Exigindo que o meridiano fosse fixado a 370 "léguas" (sic) das Ilhas
do Açores e das ilhas Cabo Verde.
D.João II tinha "por cierto" que
dentro dos seus limites "avía de hallar cosas y tierras famosas".
D.João II tinha grande empenho (inclinação)
em enviar navios a descobrir a Sudoeste. Os portugueses acharam inclusive
canoas que saiam da costa da Guiné, que navegavam na direcção de oeste com
mercadorias.
A direcção para Ocidente devia ser percorrida
seguindo o paralelo da Serra Leoa, calculando a latitude a partir da Estrela do
Norte (estrela polar), seguindo depois para Sul. S.F.Zarco “Colon”viu-se
impossibilitado de seguir esta ultima instrução do rei, como refere, devido ao
calor que encontrou, limitando-se a seguir o paralelo até atingir Terra Firme.
Colon, contraria assim a versão corrente que D. João II
(falecido em Outubro de 1495) estaria apenas envolvido nas expedições em torno
de África. Como se prova estava também empenhado em explorar o Sudoeste do
Atlântico, sabendo da existência de um continente nessa direcção.
Recorde-se que a bordo da 3ª. Viagens de Colon, na qual
atingiu Terra Firme, seguiam pelo menos dois portugueses. Esta expedição
violava de forma ostensiva o Tratado de Tordesilhas, só pode ser realizada com
a prévia autorização de D.Manuel I, um facto ignorado pela historiografia
oficial. Nas Ilhas de
Boavista e de Santiago do arquipélago de Cabo Verde, os seus navios foram
abastecidos de víveres. Rodrigo Afonso, escrivão da fazenda do rei de
Portugal, ofereceu-lhe tudo o que havia na ilha da Boavista.
O melhor registo histórico destas viagens para ocidente é
feito pelo próprio S.F.Zarco “Colon”no Memorial de la Mejorada (Julho de 1497),
no qual acusa D. Manuel I de ter violado o meridiano de Tordesilhas enviando
expedições portuguesas em várias direções:
Para a Índia contornando África, e
ultrapassando já na altura o Cabo da Boa Esperança;
Para poente na direcção das Índias
espanholas e Sudoeste (Brasil);
Para Norte na direcção do Pólo Ártico, isto
é, da Terra Nova
Colombo
confirma deste modo, e de forma inequívoca, as expedições portuguesas antes de
1497, ao continente americano.
Estas expedições portuguesas para Ocidente, são alvo de uma
dura crítica neste Memorial, mas também na Relação da Terceira Viagem,
concluído em Agosto de 1498. Colon, afirma que D.Manuel I, ao contrário de D.
João II não estaria a respeitar os limites estabelecidos no Tratado de
Tordesilhas, nomeadamente a poente.
Vasco da Gama, em Julho de 1497, quando partiu em direcção à
Índia, foram-lhe dadas instruções precisas para se aproximar das costas do
Brasil, mas sem aportar. O relato de um dos pilotos, o célebre "Piloto
Anónimo", é muito claro ao identificar que estavam a navegar junto a
terras a Ocidente, mas que não correspondiam à India, pois não tardaram em
afastar-se das mesmas navegando para Oriente (Cabo da Boa Esperança).
Na "Relação da Viagem", em Agosto de 1497, regista
indícios muito claros de terras no poente:
"indo na volta do ... a Sul e a quarta do Sudoeste,
achámos muitas aves, feitas como garções, e, quando veio a noite, tiravam
contra Susoeste muito rijas, como aves que iam para terra".
Duarte Pacheco Pereira, em 1498, fez uma longa viagem de
exploração não apenas pelas costas do Brasil, mas também pela da Venezuela,
deixando-nos um relato preciso do facto. O seu objectivo parece ter sido o de
identificar na costa brasileira do Amazonas, o ponto na Foz do Turiaco onde
passava o meridiano do Tratado de Tordesilhas. Terá atingido este lugar entre
Novembro ou Dezembro de 1498, constatado que o mesmo em termos estratégicos não
interessava a Portugal, o que levou a ocultar a expedição durante vários
anos.
Noutras passagens refere explicitamente as viagens que antes
de 1495 os portugueses faziam a Ocidente, nomeadamente ao Brasil (cfr. Jaime
Cortesão, A Colonização do Brasil, p.27-32).
Investigações recentes dão conta de uma expedição portuguesa
que entre Dezembro 1498 e Maio de 1499 explorou profundamente o Amazonas,
através do curso do rio designado por "Colpho Grande" até cerca de
500 milhas do mar, reconhecendo as embocaduras do Rio Pará e Tapajós.
A descoberta foi realizada com base na análise da
cartografia da época (mapas de Pesaro, Egerton Ms 2803 e Roselli, de origem
portuguesa, transmitidos a Espanha e Itália por Vespucio e outros) , mas também
com base em fontes espanholas.´
A conhecida expedição de Vicente Yanes Pinzón e Diego Lepe,
que em fins de 1499, alegadamente terá tocado no território brasileiro,
encontra no mesmo uma cruz colocada por anteriores expedições portuguesas (cfr.
Alfredo Pinheiro Marques, Portugal e o Descobrimento do Atlântico, p.108).
O
roteiro anónimo da 1ª. Viagem de Pedro Alvares Cabral à India (1500-1501),
descreve a aproximação intencional da armada às costas do Brasil, de modo a
oficializar a sua descoberta. Na esquadra de 12 navios seguia um pequeno
navio, uma caravela, que tinha como objectivo aportar ao Brasil, e formalmente
registar a posse do território e regressar de imediato a Portugal, o que foi
feito.
A viagem foi iniciada com total discrição. O próprio rei D.
Manuel I estava fora de Lisboa, para não levantar suspeitas. Portugal retardou o mais que pode a notícia, e só a
comunicando um ano depois, quando desembarcou em Lisboa os sobreviventes da
esquadra de Cabral. A corte portuguesa jogava no segredo.
Mestre João, físico e cosmógrafo de D. Manuel I, que
participou na armada de Pedro Álvares Cabral, na informação que prestou ao rei,
indicava que o Brasil era a "Ilha Autêntica" que estava no mapa-múndi
que pertencia a Pero Vaz da Cunha "o Bisagudo".
Pero Vaz de Caminha, cronista da expedição, na sua célebre
carta ao rei, refere explicitamente uma viagem anterior. Ao descrever a
primeira missa em solo brasileiro, diz que Nicolau Coelho trouxe muitas cruzes, com
crucifixos que "haviam ficado da outra vinda". Nicolau Coelho foi
capitão de um dos navios da expedição de Vasco da Gama (1497-1499).
O Planisfério dito de Cantino (1500-1502) mostra claramente
que o Brasil já estava cartografado no ano em que Pedro Alvares Cabral o
"achou". As enormes dimensões que o Brasil tem neste mapa mostram que
os portugueses tinham a perfeita noção que não se tratava de uma simples ilha,
mas de um continente distinto da Asia.
Recorte do planisfério dito de
Cantino 1502 -costa leste da América do Sul
Neste mapa surge um curioso acidente geográfico muito a
poente do meridiano de Tordesilhas designado "Golfo Fremoso", o qual
não aparece em nenhum outro documento estrangeiro antes de 1506. O primeiro a
fazer referência ao mesmo é justamente o esboço de um mapa de Bartolomeu Colon,
feito neste ano onde regista o "Golfo Formoso". Este topónimo
confirma de forma inequívoca as explorações portuguesas em profundidade pela
costa setentrional das Índias espanholas antes de 1506. A informação de Bartolomeu “Colon” terá sido
recolhida em Vespúcio que se mudou de Lisboa para Sevilha no final de 1504.
Uma análise mais atenta do planisfério revela outras
expedições portuguesas antes de 1502, e que serviram de base à sua
feitura.
Gonçalo Coelho, em Maio de 1501 é enviado numa expedição
para as costas do Brasil, constituída por três embarcações, provavelmente
caravelas. Comandou uma nova expedição entre Junho de 1503 e 1504, com seis
navios, quatro nunca regressariam. A frota dirigiu-se para as ilhas de Cabo
Verde, e atingiu ilha de Fernando de Noronha em 10/8/1503, onde naufragou o
navio de comando. Um grupo de navios prosseguiu o rumo para Sul durante cinco
meses atingido o Cabo Frio, onde construíram uma feitoria. O mapa de Maiolo
(Fano, Itália, 1504) identifica
o Brasil como "Terra de Gonçalo Coelho".
Estas viagens foram durante muito tempo objecto de enorme
polémica, até que foi descoberta uma acta notarial de Valentim Fernandes de
Moravia, datada de 20/5/1503, integrada no códice de Peutinger, na Biblioteca
de Esturgarda, nas quais
se confirma que Gonçalo Coelho
chegou à altura do polo Antártico, a 53 graus, "tendo encontrado grandes
frios no mar". Terá também chegado ao arquipélago
das Maldivas ou Falkand.
Parte superior do mapa de
Waldseemuller 1507
É possível que não só tenha chegado ao extremo Sul do
continente, como é evidente pela análise do mapa de Waldseemuller de 1507, como
tenha inclusive navegado na costa ocidental da América do Sul. Há vários
relatos que testemunham que quando Fernão de Magalhães, em Outubro de 1520,
chegou ao estreito que actualmente tem o seu nome, tinha consigo um mapa da
região. O piloto genovês António Pigafetta nos relatos da 1ª viagem à volta do
mundo refere..." este [Fernão de
Magalhães], tão hábil como valente, sabia que era preciso passar por um
estreito muito oculto, que tinha visto
representado numa carta feita pelo excelente cosmógrafo Martin da Boémia, que o
rei de Portugal D. Manuel I guardava na sua tesouraria...."
Mapa de Waldseemuller 1507
Americo Vespúcio viveu em Portugal entre 1499 e 1505, nos
seus escritos divulgados por toda a Europa afirma que participou nestas
expedições de Gonçalo Coelho a mando do D. Manuel I. Nunca foi encontrado
qualquer registo da sua participação nas mesmas. As suas alegadas descobertas,
com as quais pretendeu ocultar os feitos de Colon, foram elaboradas com base em
relatos dos marinheiros portugueses, com quem contactou durante os 5 anos que
viveu em Lisboa.
A redescoberta do Brasil
Viagem
de Pedro Alvares Cabral
Domingo, 8 de março
de 1500, Lisboa. Terminada a missa campal, o rei d. Manuel I sobe ao altar,
montado no cais da Torre de Belém, toma a bandeira da Ordem de Cristo e a
entrega a Pedro Álvares Cabral. O capitão vai içá-la na principal nave da frota
que partirá daí a pouco para a Índia. Era uma esquadra respeitável, a maior já
montada em Portugal com treze navios e 1 500 homens. Além, do tamanho,
tinha outro detalhe incomum. O
comandante não possuía a menor experiência como navegador. Cabral só estava no
comando da esquadra porque era cavaleiro da Ordem de Cristo e, como tal,
tinha duas missões: criar uma feitoria na Índia e, no caminho, tomar posse de
uma terra já conhecida, o Brasil.
A presença de Cabral
à frente do empreendimento era indispensável, porque
só a Ordem de Cristo, uma companhia religiosa-militar autônoma do Estado e
herdeira da misteriosa Ordem dos Templários, tinha autorização papal para
ocupar - tal como nas Cruzadas - os territórios tomados dos infiéis (no caso
brasileiro, os índios).
A redescoberta do Brasil esse
feito de Cabral simbolizara somente a oficialização política do que já fora
descoberto de facto, vários anos antes, por navegadores lusitanos... Destaque-se
a política de "segredo" que então se praticava e a espionagem que
genoveses e espanhóis tinham organizado em Lisboa
Pouco depois de Duarte Pacheco ter relatado a D. Manuel I os
resultados da sua viagem e de o informar sobre a existência de um continente no
hemisfério ocidental, fundeou no Tejo, a 10 de Julho de 1499, a nau Bérrio,
primeira embarcação da armada de Vasco da Gama a regressar a Lisboa, trazendo a
notícia - e as provas - do descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia,
facto que desencadeou, desde logo, uma febril actividade por parte da Coroa
portuguesa nos domínios diplomático, organizativo e militar, destinada a
estruturar a primeira ligação comercial oceânica euro-asiática.
A divulgação deste evento - que suscitou grande admiração e
curiosidade na Europa - teve importantes repercussões internacionais sobretudo
em Castela e Veneza, os dois estados europeus cujos interesses eram mais
duramente atingidos pela nova situação. O rei de Portugal certamente não
desconhecia que o sucesso da frota de Vasco da Gama provocaria profunda
decepção em Castela, uma vez que os Reis Católicos estavam empenhados, desde
1492, em atingir esse mesmo objectivo. O conhecimento dessa realidade, bem como
a conveniência em obter um rápido reconhecimento internacional dos direitos
portugueses à rota do Cabo, levaram D. Manuel I a actuar muito rapidamente
junto das cortes castelhana, imperial e pontifícia.
A 12 de Julho, dois dias após o acontecimento, o Venturoso
apressou-se a escrever a Isabel e Fernando para comunicar-lhes o feliz sucesso
da empresa, não esperando sequer pela chegada do comandante da expedição. Na
missiva salientava-se a existência de grandes e ricas cidades, sublinhava-se a
descoberta dos circuitos mercantis orientais e de minas de ouro; realçava-se a
carga de especiarias (canela, cravo, gengibre, noz-moscada, pimenta e outras) e
de pedras preciosas (incluindo rubis) trazida pelo navio comandado por Nicolau
Coelho e forneciam-se informações - que posteriormente se verificaram ser
erróneas - sobre a natureza cristã das populações "índias", embora
com reservas sobre a ortodoxia das suas crenças e ritos.
O monarca lusitano informou também, em diferentes datas, o
imperador Maximiliano I, o papa Alexandre VI, o colégio dos cardeais e D. Jorge
da Costa, cardeal de Portugal e influente membro da Cúria romana, das novas da
Índia. Numa missiva datada de 28 de Julho de 1499, dirigida ao primo, Maximiliano
de Habsburgo, D. Manuel I utiliza, pela primeira vez, além dos títulos herdados
do seu antecessor, os de "senhor da conquista, navegação e comércio da Etiópia,
Arábia, Pérsia e Índia", forma simbólica de afirmar perante os outros
príncipes cristãos o direito português ao monopólio de acesso ao Índico,
baseado na primazia da descoberta e nas antigas concessões papais.
Na epístola dirigida ao cardeal Alpedrinha, datada de 28 de Agosto, após o
regresso da nau São Gabriel, sob o comando de João de Sá, o rei
fornecia-lhe importantes dados de natureza geopolítica, económica e religiosa
sobre o Oriente. Enviava-lhe, também, cópias das cartas remetidas ao papa e ao
colégio dos cardeais, solicitava-lhe - apesar de afirmar explicitamente que as
doações apostólicas reconheciam os direitos da Coroa de Portugal às terras
orientais - a sua intervenção junto do pontífice e dos cardeais no sentido de,
em sinal de júbilo pelo feito, obter a confirmação das bulas anteriormente
outorgadas, medida destinada a precaver a eventualidade do aparecimento de
concorrentes europeus ou contestação por parte de Castela.
O relato que, depois de 29 de Agosto, Vasco da Gama
transmitiu a D. Manuel I sobre o complexo quadro geopolítico vigente nas
fachadas africana e asiática do Índico, bem como as preciosas informações
fornecidas por Gaspar da Índia5 induziram o monarca a concluir que a
implantação portuguesa no Oriente iria deparar com significativas dificuldades
devido à existência de uma numerosa e influente comunidade muçulmana que controlava
as redes comerciais índicas, tendo recebido com visível hostilidade a frota
portuguesa que aportou a Calecut.
Regimento de D. Manuel I para
a armada de Pedro Álvares Cabral à Índia, 1500. Instituto dos Arquivos
Nacionais/Torre do Tombo.
O relato que, depois de 29 de Agosto, Vasco da Gama
transmitiu a D. Manuel I sobre o complexo quadro geopolítico vigente nas
fachadas africana e asiática do Índico, bem como as preciosas informações
fornecidas por Gaspar da Índia induziram
o monarca a concluir que a implantação portuguesa no Oriente iria deparar com
significativas dificuldades devido à existência de uma numerosa e influente
comunidade muçulmana que controlava as redes comerciais índicas, tendo recebido
com visível hostilidade a frota portuguesa que aportou a Calecut.
Armada de Pedro Álvares Cabral no Livro de Lisuarte de
Abreu, c. 1558-1564. The Report Morgan Library, Nova Iorque
O entendimento de que a penetração comercial lusitana nos
circuitos mercantis orientais encontraria séria oposição esteve na base da
decisão real, provavelmente a conselho de Vasco da Gama, de enviar uma grande
armada que demonstrasse o poderio militar de Portugal e que funcionasse como
importante suporte das pretensões lusas em estabelecer uma feitoria e uma
missão na capital do Samorim. O poder de fogo da esquadra deveria, ainda,
exercer uma função dissuasória face ao surgimento de eventuais resistências.
A recepção em Castela das novas oriundas de Portugal
contribuiu para agravar o descrédito de Cristóvão Colombo perante os Reis
Católicos6 e levou-os a introduzir importantes modificações na sua política
relativamente ao poente. No último trimestre de 1498, o Almirante do Mar Oceano
enviara aos seus soberanos uma relação e uma pintura sobre a "terra firme
grandíssima" que tinha descoberto na sua terceira viagem, bem como
informações sobre a existência de pérolas na parcela da orla marítima
sul-americana baptizada de Costa de Pária. Com base nos relatos e no mapa
colombianos, D. João Rodríguez de Fonseca, representante de Isabel e Fernando
para os assuntos das "Índias", autorizou Alonso de Ojeda, João de la
Cosa e Américo Vespúcio, bem como Pedro Alonso Niño e Cristóvão Guerra, a
empreenderem viagens na região ocidental (1499-1500).
Os
resultados alcançados por Vasco da Gama convenceram os Reis Católicos a ignorar
definitivamente o exclusivo concedido a Colombo, autorizando a celebração de
capitulações com outros candidatos que pretendessem efectuar explorações nas
paragens ocidentais em busca da Ásia. Como consequência dessa nova
orientação política, partiram, em finais desse ano, as expedições capitaneadas
por Vicente Yáñez Pinzón e Diogo de Lepe (1499-1500), seguindo-se, no ano
imediato, as de Rodrigo de Bastidas (1500-1502) e de Alonso Vélez de Mendoza
(1500-1501).
A determinação régia em incrementar as viagens castelhanas
ao hemisfério ocidental, promovidas por andaluzes, tinha por objectivo alcançar
o Oriente conforme revela a seguinte passagem da edição de 1516 das Décadas de
Pedro Mártir de Anghiera referente a um trecho da costa sul-americana
reconhecido pelos homens de Pinzón: "tinham percorrido já 600 léguas pelo
litoral de Pária e, segundo pensa, passado além da cidade de Cataio e da costa
da Índia além do Ganges".
Os preparativos para o envio da segunda armada da Índia
decorreram rapidamente e desenvolveram-se em várias frentes. A diplomacia
lusitana encetou, com êxito, diligências junto de Roma no sentido de alcançar
concessões apostólicas que permitissem desenvolver acções evangelizadoras,
fundar conventos e organizar eclesiasticamente a Índia10. Paralelamente, D.
Manuel I procurou obter em Castela até 1500 marcos de prata destinados à
aquisição de produtos orientais.
Um documento de significativa importância - o
"apontamento das coisas necessárias às naus da armada" - redigido
entre meados de Setembro e 4 de Novembro de 1499, contém minuciosas
recomendações destinadas à organização da viagem. O seu autor salienta a
necessidade de se elaborarem os regimentos destinados às duas figuras chave da
expedição - Vasco da Gama, então indigitado para o cargo de capitão-mor, e
Bartolomeu Dias, responsável pela flotilha de caravelas destinada a Sofala - a
vantagem de se nomear um sota-capitânia, de se designarem, com antecedência, os
restantes capitães e os respectivos escrivães, mestres e pilotos, bem como de
se elaborarem as instruções para os capitães, feitor e escrivães. Este
memorando alude, também, à indicação dos clérigos, frades e bombardeiros, à
dotação de cartas de marear para todas as embarcações, ao fornecimento de
apetrechos, mantimentos, armas e munições destinados à esquadra e, ainda, ao
envio de cartas e presentes aos reis de Calecut, Melinde e a outros soberanos
não especificados.
Por
Carta Régia de 15 de Fevereiro de 1500, o soberano nomeou para o cargo de
comandante da frota Pedro Álvares de Gouveia (Cabral), secundogénito de
Fernão Cabral, senhor de Belmonte e corregedor da Beira, embora anteriormente tivesse
escolhido Vasco da Gama para exercer aquela função. A preparação da armada
mereceu os maiores cuidados, tendo o escrivão António Carneiro ouvido o
Almirante da Índia e registados os seus conselhos, que foram utilizados na
elaboração do regimento real.
Quer o "borrão original" das ordens régias
fornecidas a Cabral, quer os fragmentos da minuta do regimento da esquadra de
1500 denotam preocupações relacionadas com o estabelecimento de alianças com
vários soberanos locais (em especial com os senhores de Calecut e Melinde), o
ataque à navegação muçulmana no Índico, a participação no comércio das
especiarias orientais, o estabelecimento de uma feitoria em Calecut e o
desenvolvimento de actividade missionárias na Índia. Os referidos documentos
estão, contudo, incompletos, não possuindo, curiosamente, os fólios iniciais
referentes à travessia do Atlântico Sul que interessam directamente à questão
do descobrimento do Brasil.
Não chegaram aos nossos dias os regimentos confiados aos
capitães dos restantes navios, sabendo-se, todavia, que foram elaborados
vários, designadamente o destinado a Bartolomeu Dias, conforme se deduz da
leitura das notas apostas nas margens e no reverso do "borrão" das
instruções adicionais entregues a Cabral. No entanto, conservaram-se as minutas
integrais dos regimentos dados aos escrivães da receita (Martinho Neto e Afonso
Furtado) e da despesa (Gonçalo Gil Barbosa e Pêro Vaz de Caminha) da feitoria
que D. Manuel projectava estabelecer em Calecut e cuja direcção tinha sido
atribuída a Aires Correia.
A 9 de
Março de 1500 zarpou de Belém a segunda armada da Índia, constituída por
13 velas (9 naus, 3 caravelas e 1 naveta de mantimentos) capitaneadas por
Cabral, Sancho de Tovar (que comandava a nau El-Rei, estando investido no cargo
de sota-capitânia, ou seja, lugar-tenente, tendo por missão substituir o
capitão-mor em caso de impedimento deste), Simão de Miranda de Azevedo, Aires
Gomes da Silva, Nicolau Coelho, Nuno Leitão da Cunha, Vasco de Ataíde,
Bartolomeu Dias, Diogo Dias, Gaspar de Lemos, Luís Pires, Simão de Pina e Pêro
de Ataíde.
A esquadra transportava entre 1200 e 1500 homens, incluindo
a tripulação, a gente de guerra, o feitor, os agentes comerciais e escrivães, o
cosmógrafo mestre João, um vigário e oito sacerdotes seculares, oito religiosos
franciscanos, os intérpretes, os indianos que tinham sido levados para Lisboa
por Vasco da Gama e alguns degredados.
A 14
desse mês, a armada passou ao largo do arquipélago das Canárias e a 22 alcançou
as ilhas de Cabo Verde, tendo o capitão-mor optado por não se deter
nessas ilhas para efectuar a aguada prevista nas instruções. No dia seguinte,
sem que tivesse ocorrido qualquer tempestade, desapareceu a nau de Vasco de
Ataíde, resultando infrutíferas todas as tentativas para a encontrar. É provável
que a intensa cerração que se faz sentir nessa região, conjugada com nuvens de
poeira oriundas da costa sariana que provocam má visibilidade, possam ter
estado na origem do naufrágio
Entre
os dias 29 e 30, a esquadra encontrar-se-ia a 5º N, iniciando a
penetração na zona das calmarias equatoriais - que levou dez dias a transpor -
tendo a corrente equatorial sul afastado a sua rota cerca de noventa milhas
para oeste. O 1º 1/4 a norte do Equador, a frota encontrou vento escasso,
iniciando, então, de acordo com as recomendações do Gama, a volta pelo largo em
busca do alísio de sueste, rumando muito provavelmente para sudoeste, devido ao
regime de ventos que ocorre na região. Ultrapassada a linha equinocial, por volta de 10 de
Abril, a rota terá sido corrigida para su-sudoeste, passando a frota a cerca de
210 milhas a ocidente do arquipélago de Fernando de Noronha.
Nessa época do ano - em que vigora a monção de sueste (Março
a Setembro) no trecho da costa nordestina compreendido entre o cabo Calcanhar
(5º 09' S) e o rio de São Francisco (10º 31' S) - atenua-se o efeito de
arrastamento para oeste a partir da latitude do cabo de São Roque (5º 29' S)
devido à divisão, nas imediações desse acidente geográfico, da corrente
equatorial sul em dois ramos: a "corrente das guianas" - que
prossegue para oeste e nas proximidades da orla marítima inflecte para noroeste
- e a "corrente brasileira", que se dirige para o quadrante sudoeste,
descendo ao longo da faixa litorânea com um afastamento da ordem das 120 a 150
milhas, permitindo, assim, um aumento da velocidade dos navios.
Rota da armada de Pedro
Álvares Cabral entre Lisboa e o Brasil.
Por
volta do dia 18, a armada encontrar-se-ia na altura da Bahia de Todos-os-Santos
(13º S), área em que o vento se aproxima bastante de leste, favorecendo
a busca de terra, pelo que a esquadra terá passado a navegar a um rumo próximo
do sudoeste, fechando sempre sobre a costa.
Na
terça-feira, 21, segundo o testemunho do célebre escrivão cabralino, os
membros da tripulação encontraram alguns sinais de terra:
"muita quantidade d'ervas compridas a que os mareantes
chamam botelho e assim outras, a que também chamam rabo d'asno".
Apesar de, nessa latitude (cerca de 17º S), dispor de vento
favorável - que sopra francamente de leste - para atingir mais rapidamente o
seu objectivo prioritário que era o de alcançar a monção do Índico, o
capitão-mor alterou deliberadamente o rumo para oeste em busca de terra.
A 22 de
Abril toparam, pela manhã,
"com aves, a que chamam fura-buchos... e, a horas de
véspera [entre as 15 horas e o sol-posto]," tiveram "vista de terra,
isto é, primeiramente d'um grande monte, mui alto e redondo, e d'outras serras
mais baixas a sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto
o capitão pôs nome o Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz".
Após este achamento, a armada fundeou a cerca de 6 léguas
(19 milhas) da costa. No
dia imediato (quinta-feira, 23 de Abril), os navios mais ligeiros
(caravelas), seguidos pelos de maior tonelagem (naus), procedendo
cautelosamente a operações de sondagem, ancoraram a cerca de meia légua (milha
e meia) da foz do posteriormente denominado rio do Frade. Foi, então, decidido
enviar um batel a terra, comandado por Nicolau Coelho,
para estabelecer relações com os indígenas que se encontravam na praia.
Os primeiros contactos entre os tripulantes da pequena
embarcação e o grupo de 18 a 20 ameríndios foram dificultados pelo barulho
ensurdecedor provocado pela rebentação que impediu tentativas mais prolongadas
de entendimento. Contudo, ainda houve oportunidade para trocar um barrete
vermelho, uma carapuça de linho e um sombreiro preto por "um sombreiro de
penas d'aves, compridas, com uma copazinha pequena de penas vermelhas e pardas,
como de papagaio...e um ramal [colar] grande de continhas brancas, miúdas...
Rota provável de aproximação
da armada ao litoral brasílico, da autoria de Max Justo Guedes
Na noite de quinta para sexta-feira, uma forte ventania de
"sueste, com chuvaceiros, que fez caçar [afastar do
local onde estavam fundeadas] as naus, especialmente a capitânia",
Levou a que os capitães e os pilotos decidissem aproar para
norte, ao amanhecer, em busca de um ancoradouro abrigado, onde pudessem
verificar o estado de abastecimento da frota em água e lenha, com o objectivo
de dispensar a aguada na costa de África.
Depois de percorrerem cerca de 10 léguas (quase 32 milhas),
os pilotos ultrapassaram a barra do Buranhém, encontraram
"um arrecife [a Coroa Vermelha] com um porto dentro,
muito bom e muito seguro [a baía Cabrália], com uma mui larga entrada",
onde lançaram as âncoras, tendo as naus fundeado a cerca de uma légua do
recife, por terem atingido o local pouco antes do pôr-do-sol. Afonso Lopes,
piloto do capitão-mor, sondou o porto, tendo, no decurso dessa operação,
capturado dois mancebos que se encontravam numa almadia e conduzido-os para a
nau-capitânia com o objectivo de os interrogar.
No sábado, 25 de Abril, as embarcações de maior tonelagem
penetraram na baía, aí fundeando. Concluídas as tarefas de marinharia, reuniram-se
todos os comandantes na nau de Cabral, sendo Nicolau Coelho e Bartolomeu Dias
incumbidos pelo capitão-mor de devolver à liberdade, com presentes, os dois
nativos aprisionados na véspera e de desembarcar o degredado Afonso Ribeiro,
que tinha por missão obter informações mais detalhadas sobre os autóctones.
Na praia encontravam-se perto de 200 homens armados com
arcos e flechas, tendo-os deposto a pedido dos seus companheiros que se
encontravam nos batéis.
A partir de então começaram progressivamente a
estabelecer-se relações cordiais entre os marinheiros lusos e os tupiniquins
traduzidas em trocas de objectos (carapuças, manilhas e guizos por arcos,
flechas e adornos de penas) e na colaboração prestada pelos indígenas nas
operações de abastecimento de água e lenha.
Os ameríndios não permitiram que o degredado ficasse entre
eles, compelindo-o a regressar à armada. Na tarde do mesmo dia, uma parte da
tripulação foi folgar e pescar no ilhéu, distante da praia, onde os nativos só
tinham possibilidades de chegar a nado ou em canoa. Esta decisão foi tomada por
Cabral como medida de segurança para evitar quaisquer hipóteses de ataques de
surpresa de que, por exemplo, os tripulantes das expedições de Dias e Gama tinham
sido alvo na costa africana.
No domingo, dia de Pascoela, o capitão-mor mandou armar, no
ilhéu da Coroa Vermelha, um altar destinado à celebração da missa. A primeira
cerimónia cristã no Brasil, à qual assistiram a tripulação e cerca de duzentos
tupiniquins que se encontravam na praia fronteiriça, foi presidida por Frei
Henrique de Coimbra, guardião dos franciscanos, que, num improvisado púlpito,
também se encarregou da pregação, dissertando sobre o significado da quadra
pascal e do descobrimento daquela terra.
No mesmo dia, o comandante reuniu em conselho na
nau-capitânia todos os capitães da esquadra que concordaram com a sua proposta no sentido de
mandar ao rei o navio auxiliar com a "nova do achamento" da Terra de
Vera Cruz e, também, com a missão de a explorar mais detalhadamente na
viagem de regresso. Foi
ainda deliberado que se não tomasse nenhum indígena para o enviar ao reino,
optando-se apenas por deixar dois degredados com a missão de aprender a língua
e recolher informações. Terminada a reunião, o capitão-mor foi efectuar
um reconhecimento das margens do rio Mutari, autorizando a tripulação a folgar, circunstância que foi
aproveitada por Diogo Dias para organizar um baile, ao som de gaita, no qual
participaram portugueses e ameríndios.
Nos dias imediatos procedeu-se à transferência da carga da
naveta de mantimentos para as outras onze embarcações, à conclusão do
aprovisionamento de água e lenha, à construção de uma grande cruz, à
prossecução das tentativas para obter mais informações sobre os habitantes da
terra e à criação de um clima de cordialidade com os tupiniquins, alguns dos
quais foram convidados a tomar refeições e a pernoitar nas naus.
O cosmógrafo, bem como os pilotos das naus do capitão-mor e
da sota-capitânia, respectivamente, Afonso Lopes e Pêro Escobar, aproveitaram a
permanência em terra para armar na praia o grande astrolábio de pau - mais
fiável do que os pequenos astrolábios de latão utilizados a bordo - com o
objectivo de tomar a altura do Sol ao meio-dia, comparar os cálculos das léguas
percorridas e estimar a distância a que se encontravam do cabo da Boa Esperança. A medição da latitude da baía
Cabrália (que está actualmente fixada em 16º 21' S), efectuada a 27 de Abril
por aqueles três técnicos, deu o resultado de 17º S, tendo, por conseguinte,
uma margem de erro inferior a 40' por excesso.
Na carta que enviou a D. Manuel I, mestre João Faras, além
de recomendações de natureza náutica, procede à primeira descrição e a um esboço de
representação da Cruz, ou seja, da constelação austral. O cosmógrafo e físico régio acrescenta, ainda, uma passagem em que
informa o monarca de que, para conhecer a localização da nova terra, bastaria
consultar o mapa-múndi que se encontrava em Lisboa, na posse de Pêro Vaz da
Cunha, o Bisagudo, onde a mesma estava desenhada.
No entanto, ressalva que se tratava de uma carta antiga, não
indicando se a terra era ou não habitada. Esta referência a uma hipotética
representação cartográfica da Terra do Brasil, anterior a Abril de 1500, tem
suscitado acesa polémica devido às implicações decorrentes da sua interpretação
apontarem ou não para a existência de precursores de Cabral naquela região
brasílica.
Não são concordantes as opiniões dos autores dos três
relatos sobre o descobrimento do Brasil relativamente à natureza da terra
achada. Pêro Vaz de Caminha considera-a uma ilha, uma vez que no encerramento
da Carta a D. Manuel data-a de "Porto Seguro, da vossa ilha da Vera Cruz,
hoje, sexta-feira, primeiro dia de Maio de 1500". O bacharel mestre João,
por seu turno, refere que "...quase entendemos por acenos que esta era
ilha, e que eram quatro, e que de outra ilha vêm aqui almadias...",
endereçando a sua missiva de "Vera Cruz no primeiro de Maio de 500".
O autor da vulgarmente designada Relação do Piloto Anónimo
aborda a questão de forma mais dubitativa, indicando que a terra era "grande, porém não pudemos saber se era ilha
ou terra firme", adiantando, contudo, que se inclinava para a "última
opinião pelo seu tamanho".
Esta última testemunha não ficou, todavia, circunscrita ao
litoral reconhecido até à baía Cabrália, tendo tido oportunidade, no
prosseguimento da derrota rumo ao cabo da Boa Esperança, de avistar mais uma
parcela da orla marítima, o que lhe permitiu adquirir uma visão mais próxima da
realidade.
A 1 de Maio, sexta-feira, o capitão-mor procedeu à escolha
do sítio onde deveria ser erguida a grande cruz construída em madeira da terra,
de forma a, de acordo com o escrivão cabralino, "melhor ser vista".
Este facto denota a preocupação em assinalar aquela excelente aguada para as
armadas vindouras, tal como o havia feito Vasco da Gama na costa de África, em
1497, ao mandar carpinteirar uma cruz de um mastro grande para mais eficazmente
sinalizar a angra de São Brás.
Pormenor do Planisfério anónimo português de 1502, dito de
Cantino. Biblioteca Estense, Modena
Foi então organizada uma procissão que transportou a cruz,
em que foram pregadas as armas e a divisa reais, até ao local selecionado,
situado nas proximidades da foz do rio Mutari, que não é visível do mar, onde a
implantaram, seguindo-se a celebração da segunda missa na Terra de Vera Cruz.
Concluídas as cerimónias litúrgicas, o comandante da expedição ordenou a partida para Lisboa da naveta de
mantimentos, comandada por Gaspar de
Lemos, enviando ao rei
papagaios, arcos, flechas e outros objectos fornecidos pelos tupiniquins, bem
como as missivas dos capitães, do feitor, do cosmógrafo e do escrivão sobre o
"achamento da terra nova".
No sábado, 2 de Maio, a esquadra cabralina zarpou do
ancoradouro brasílico, deixando, todavia, em terra, dois grumetes que tinham
desertado nas vésperas da partida e igual número de degredados
"os quais começaram a chorar, e foram animados pelos naturais do
país que mostravam ter piedade deles".
O navio alvissareiro efetuou, na viagem de retorno a Lisboa,
um reconhecimento do litoral brasílico compreendido entre Porto Seguro e o cabo
de São Jorge - identificado com o actual cabo de Santo Agostinho - numa
extensão superior a 150 léguas, o que permitiu obter a confirmação de que se
tratava de um continente. O traçado geral da faixa costeira explorada, uma
legenda alusiva ao descobrimento, os topónimos correspondentes às estremas
atingidas, sendo que a do norte se encontra assinalada com uma bandeira das
Quinas, foram, na sequência da expedição cabralina, inseridos no padrão cartográfico
real.
D.
Manuel I recebeu, provavelmente no decorrer do mês de Julho de 1500, Gaspar de
Lemos, tomando conhecimento dos sucessos protagonizados pela segunda armada da
Índia até 1 de Maio, inclusive, bem como da existência no poente de uma
grandiosa terra firme austral. Na previsão de que a descoberta da Terra de Vera
Cruz pudesse suscitar a eclosão de disputas com Castela acerca da esfera de
influência em que o novo domínio se situava, o rei decidiu manter segredo sobre
o assunto até obter informações sobre os respectivos limites.
Em data muito próxima da arribada ao Tejo da naveta de
mantimentos chegaram a Lisboa as novas do falecimento de D. Miguel da Paz,
ocorrido em Granada a 17 de Julho de 1500, o que não suscitou manifestações de
pesar porquanto significava o fim da união ibérica que se concretizaria quando
o príncipe subisse aos tronos de Castela, Aragão e Portugal. A sucessão dos
dois primeiros reinos recaía automaticamente em D. Joana (futura Joana a Louca)
e no varão que havia poucos meses dera à luz (o futuro Carlos I de Espanha e
Carlos V do Sacro Império nascera a 24 de Fevereiro desse ano).
A morte de D. Miguel reabriu o problema da sucessão da Coroa
de Portugal, uma vez que não havia um único descendente legítimo da dinastia de
Avis. A inexistência de um herdeiro do trono conferiu grande premência ao
casamento do rei, tendo D. Manuel iniciado rapidamente negociações com os Reis
Católicos com vista a consorciar-se com a infanta D. Maria, terceira filha
daqueles monarcas. O Venturoso não teve dificuldades em obter o assentimento de
Isabel e Fernando, que também desejavam aquele enlace, tendo-se realizado os
esponsais em Alcácer do Sal a 30 de Outubro de 1500.
Estes acontecimentos condicionaram o calendário político
manuelino até finais do ano, pelo que não foram adoptadas iniciativas
susceptíveis de criar atritos com Castela-Aragão, que pudessem dificultar ou
inviabilizar a concretização do matrimónio régio. No início de 1501,
ultrapassados os constrangimentos político-diplomáticos já referidos e
encerrado o período de festividades inerentes ao evento, o rei de Portugal
tomou decisões conducentes a integrar funcionalmente os domínios do Novo Mundo
no contexto do Império.
A
primeira consistiu em dar instruções a João da Nova, capitão-mor da terceira
armada da Índia, para tomar refresco na Terra de Santa Cruz. Com efeito,
a frota zarpou do Tejo na primeira quinzena de Março, iniciou a aproximação ao
litoral brasílico por alturas do cabo de Santo Agostinho e efectuou a aguada na
costa pernambucana.
Viagem
de Nicolau Coelho (1501)
Passados apenas cerca de seis meses após o
seu regresso da Índia, parte de novo com destino ao oriente na armada de Pedro
Álvares Cabral. Chegada a armada ao Brasil, de novo foi confiado a Coelho o reconhecimento do litoral
desse novo território, bem como o comando de um pequeno batel enviado a terra para estabelecer
contacto com os indígenas que se encontravam na praia. Mais uma vez demonstrou Nicolau Coelho a sua experiência
marinheira, bem como a facilidade de relacionamento com os novos povos
contactados, qualidades que
concorreram para que, ao lado de Sancho de Tovar e de Bartolomeu Dias, fosse um
dos mais importantes capitães de Cabral.
Conhecida em Lisboa a notícia do achamento do Brasil pela
armada de Cabral (notícia de que foi portador Gaspar de Lemos), foi desde logo
preparada uma armada destinada a reconhecer o litoral da nova terra. Com
efeito, era forçoso conhecer o que nela havia que se aproveitasse.
Pese embora o
laconismo das fontes é possível afirmar que a primeira dessas expedições teve
início em 1501 (terminando em 1502) e, segundo Vespúcio na sua Lettera, bem
como o autor da Relação do Piloto Anónimo, seria constituída por três
embarcações, provavelmente caravelas, ainda de acordo com uma carta de Giovanni
Affaitati a Piero Pasqualigo. A identificação do seu capitão não é fácil, embora em obras portuguesas
do século XVI surjam referências pouco claras a uma viagem comandada por
Gonçalo Coelho (que, no entanto, fazem referência a 6 navios).
Mesmo a leitura dos textos de Vespúcio (único relato sobre a
navegação) não traz luz ao problema na medida em que aquele omite referências
que pudessem pôr em causa a sua primazia. Neste como noutros casos é o estudo
cartográfico que permite avançar com algumas hipóteses interpretativas
consistentes.
Com efeito, a identidade do capitão da armada enviada em
1501 às costas do Brasil é esclarecida pelo mapa de Maggiolo (datado de Fano, 8
de Junho de 1504) no qual se encontra inserida, sobre a representação do
território brasileiro, a legenda Terra de Gonsalvo Coigo vocatur Santa Croxe.
Com efeito, parte dos topónimos evidenciados demonstram que
a expedição percorreu território do que viria a ser o Brasil, atribuindo-lhes
designações de raiz portuguesa (pormenor a destacar é o facto de, novamente de
acordo com as informações presentes nas cartas do florentino, os navios da
expedição se terem cruzado, nos primeiros dias de Junho, ao largo de Cabo
Verde, com algumas das embarcações da armada de Cabral, já no regresso da
Índia.
A chegada ao Brasil terá tido
lugar na região do Rio Grande do Norte, devendo a armada ter continuado
a sua navegação até à Ilha de Cananeia, onde cessa a toponímia da costa e os
respectivos desenho nos documentos cartográficos coevos.
A partir desse ponto
da costa a navegação terá deixado de ser costeira prosseguindo para Sul até uma
latitude que não deverá ter ultrapassado o 26º. Determinado o regresso a Lisboa
dirigiram-se para a Serra Leoa, fazendo ainda escala nos Açores. Percorrendo
tão larga extensão de costa para Sul fica explicado que, a partir de 1502,
começasse a ganhar crédito a suspeita de que se estava no que “se crê ser terra
firme”, conforme se lê numa legenda da carta de Cantino, e não numa ilha.
A crónica de D. Manuel de Damião de Góis dá-nos notícia de
uma segunda armada capitaneada por Gonçalo Coelho (que terá partido a 10 de
Junho de 1503 e regressado em 1504), composta por seis navios, da qual quatro
não regressariam e identificável com uma expedição a que Vespúcio se reporta
nas Quatuor Americi Vesputti Navigationes de 1507.
A frota ter-se-á dirigido a Cabo
Verde, e atingiria depois a ilha de Fernando de Noronha, a 10 de Agosto, onde
naufragaria a capitânia. Aí se separariam os navios restantes não
voltando Vespúcio, segundo a sua Lettera, a rever o capitão no decurso da
expedição. Vespúcio e outro capitão teriam rumado a Sul durante cinco meses
podendo ter atingido Cabo Frio onde, em 1511, ano de realização da viagem da
nau “Bretoa”, existiria uma feitoria. Nesse ponto da costa (ou em Porto Seguro)
teriam então construído uma feitoria-fortaleza onde ficaram 24 homens. Os
outros navios da frota terão descoberto a Ilha da Trindade.
Atendendo
aos elementos que acima se expõe é possível atribuir a Nicolau Coelho um papel extremamente importante no reconhecimento
da costa brasileira, o que se terá traduzido no aperfeiçoamento dos
conhecimentos cartográficos, condições de navegabilidade e atribuição de
topónimos potenciadores de uma navegabilidade e estabelecimento posterior com
bases mais seguras.
Todavia, a “presença de Vespúcio” é que lhe confere especial
relevo fora de Portugal, mediante as suas cartas remetidas a Florença e daí
divulgadas pela Europa.
Viagem de Gonçalo Coelho (1501-1502)
A segunda - e mais importante - foi a de armar uma flotilha de três caravelas,
cujo comando confiou a Gonçalo Coelho, com a missão de determinar os limites da
terra firme descoberta por Cabral. É muito provável que entre os
objectivos cometidos à expedição de 1501-1502 se encontrasse o de efectuar um
levantamento das potencialidades económicas da Terra de Santa Cruz, facto
indiciado pela participação de dois destacados florentinos que se encontravam
intimamente associados a empreendimentos marítimos e comerciais nas
"Índias de Castela".
Um dos italianos era Gerardo Verde, irmão de um grande
mercador originário da Toscana, Simão Verde, que fundara uma companhia
comercial solidamente implantada na Andaluzia.
A concordância em aceitar os serviços do florentino poderá,
também, ter ficado a dever-se ao facto do Venturoso pretender agir
cautelosamente na definição da soberania portuguesa no hemisfério ocidental,
utilizando um estrangeiro neutral que tinha participado na expedição de Ojeda
aos territórios americanos pertencentes à Coroa de Castela e que poderia, no
caso de ocorrer um conflito luso-castelhano sobre a soberania ou os limites do
Brasil, testemunhar que a viagem organizada por Portugal se destinava a terras
desconhecidas, incluídas na sua área de jurisdição, não constituindo qualquer
violação do Tratado de Tordesilhas.
A
prudente actuação de D. Manuel I destinar-se-ia a garantir que a implantação da
presença lusitana na Terra de Santa Cruz não suscitasse a hostilidade dos Reis
Católicos de forma a permitir-lhe concentrar prioritariamente os meios
disponíveis na cruzada anti-muçulmana no Oriente, no Norte de África e no
Mediterrâneo, o que pode ser ilustrado com a partida, a 15 de Junho de 1501, de
uma grande armada (30 naus, navios e caravelas), comandada por D. João de
Meneses, conde de Tarouca, com o objectivo de socorrer os venezianos e conter a
ameaça turca.
Os
navios de Gonçalo Coelho zarparam de
Lisboa entre 10 e 14 de Maio de 1501, dirigindo-se a Bezeguiche
(Senegal) para tomar refresco. No final do mês encontraram surtas nesse porto
duas naus da armada de Cabral que regressavam da Índia, tendo-se efectuado
importantes conciliábulos entre alguns membros de ambas as tripulações que permitiram a Vespúcio
chegar à conclusão de que a Terra de Santa Cruz pertencia ao mesmo continente
que ele havia visitado no decurso da expedição de Ojeda, situando-se, todavia,
na região meridional.
Apesar de todas estas movimentações, não transpiraram
notícias sobre a descoberta efectuada pela esquadra de Cabral nas paragens
ocidentais, o que revela a existência de um calendário político para a sua
divulgação. O argumento de que a inexistência de informações sobre o assunto se
teria ficado a dever à pouca importância atribuída por D. Manuel I ao achamento
do Brasil é infirmado pela tomada das decisões já referidas que apontam no
sentido contrário ao dessa hipótese.
Na noite de 23 para 24 de Junho de 1501 chegou ao Tejo a nau
Anunciada, pertencente à sociedade constituída entre D. Álvaro e os mercadores
italianos, comandada por Nuno Leitão da Cunha, primeira unidade da segunda
armada da Índia a regressar do Oriente. A partir de 26 desse mês, as missivas
de italianos residentes em Portugal e Castela (Affaitadi, Cretico, Marchioni,
Pisani e Trevisano) vão aludir constantemente ao descobrimento da Terra dos
Papagaios - designação que lhe foi atribuída por esses diplomatas e mercadores
-, pondo em relevo o encontro de uma terra desconhecida, a existência de
populações caracterizadas pela nudez e a abundância e variedade de papagaios.
No mês de Julho, verificou-se o gradual retorno dos restantes navios cabralinos,
incluindo a nau-capitânia.
Somente a 28 de Agosto de 1501, o Venturoso escreveu aos
sogros dando-lhes novas dos sucessos da expedição de 1500 e referindo o
achamento da Terra de Santa Cruz, o que desmente a ideia generalizada de que D.
Manuel I comunicou rapidamente aos Reis Católicos o descobrimento do Brasil,
asserção que não corresponde à realidade dos factos, conforme comprova a
análise cuidada da cronologia.
A
conclusão a retirar não pode, pois, deixar de ser a de que o rei de Portugal
propositadamente demorou mais de um ano (de Julho de 1500 a Agosto de 1501) a
dar conta a Isabel e Fernando das descobertas efectuadas pelos seus navios na
região austral.
Fê-lo, ainda assim, nessa data, devido à insistência de Pêro
Lopez de Padilla, representante dos Reis Católicos na corte de Lisboa,
apresentando a desculpa diplomática de não os ter notificado mais cedo porque
quisera aguardar primeiramente pelo regresso do capitão-mor e depois pelo dos
restantes navios, preparando-se para o fazer quando o embaixador lhe
transmitira os seus desejos de receber notícias sobre os sucessos daquela
armada.
Em suma, o Venturoso tinha conhecimento há mais de um ano do
"achamento da terra nova" quando comunicou o acontecimento aos reis
de Castela e Aragão que, a partir de então, tomaram conhecimento de que teriam
de passar a partilhar de facto com Portugal a terra firme ocidental.
O comportamento de D. Manuel I relativamente à divulgação
dos resultados obtidos pela esquadra de Cabral foi diametralmente oposto àquele
que adoptou aquando do descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia.
Neste último caso, o
monarca, dois dias após a entrada do primeiro navio da armada de Vasco da Gama
na barra do Tejo, apressou-se a escrever aos Reis Católicos, transmitindo-lhes
euforicamente o feliz sucesso da empresa, não esperando sequer pelo retorno do
comandante da expedição. Relativamente à descoberta do Brasil, o soberano não
só não deu qualquer informação sobre o regresso da naveta de mantimentos com os
vários relatos sobre o "achamento da terra nova", como retardou o
mais possível a sua participação, fazendo-o num tom de "prudência e júbilo
moderado"54. Importa, pois, procurar encontrar os motivos que permitam
interpretar uma tão significativa diferença de atitudes em relação às duas
situações.
Ao receber as notícias sobre a descoberta da grande terra
firme austral - cujas estremas setentrional e meridional eram desconhecidas -
D. Manuel apercebeu-se que, para além de ter batido os Reis Católicos na
corrida pela chegada ao Oriente (1499), acabava de abrir uma nova frente de
competição com Castela, desta vez no hemisfério ocidental (1500). Terá
considerado, então, mais adequado, devido às prioridades em assegurar a
sucessão do trono (negociações para o seu casamento com a infanta D. Maria) e
em ampliar militarmente a presença portuguesa no Oriente e no Norte de África,
não permitir a divulgação de notícias sobre o assunto até se encontrar na posse
de informações precisas sobre os limites da Terra de Santa Cruz, para o que
mandou aparelhar a esquadrilha que confiou a Gonçalo Coelho. No entanto, o
regresso do Índico dos navios cabralinos, o primeiro dos quais pertencia a
particulares, tornou pública a descoberta daquela terra.
Os Reis Católicos - alertados pelos rumores que circulavam
sobre o achamento, por navios lusos, de terras no poente que poderiam estar
situadas no seu hemisfério de influência - deram instruções ao seu
representante em Portugal para que insistisse junto do "dilecto
filho" no sentido de lhes dar conta dos resultados obtidos pela segunda
armada da Índia.
O monarca lusitano, pressionado pelo embaixador dos sogros,
enviou-lhes uma missiva (28 de Agosto de 1501), redigida em linguagem muito
cautelosa e ambígua, em que atribui a descoberta feita por Cabral a um
"milagre divino", sublinhando que a mesma era muito conveniente e
necessária para a navegação da Índia. Omite, todavia, os dados sobre a posição
geográfica da Terra de Vera Cruz, bem como os resultados das medições de latitude
efectuadas em Porto Seguro e não faz a mínima referência ao envio da expedição
de Coelho que havia partido de Lisboa em Maio.
O selo
de secretismo com que o Venturoso rodeou os resultados náuticos da expedição de
Cabral encontra-se bem patente numa missiva, datada de 10 de Agosto
desse ano, em que Ângelo Trevisano, secretário do embaixador veneziano
(Domenico Pisani) junto de Isabel e Fernando, informava o analista Malapiero
que não tinha sido possível obter uma carta de marear da referida viagem,
"porque o rei impôs a pena de morte a quem a mandar para
fora".
Gonçalo Coelho, em Maio de 1501 é enviado numa expedição
para as costas do Brasil, constituída por três embarcações, provavelmente
caravelas. Comandou uma nova expedição entre Junho de 1503 e 1504, com seis
navios, quatro nunca regressariam.
A frota dirigiu-se para as ilhas de Cabo Verde, e atingiu
ilha de Fernando de Noronha, onde naufragou o navio de comando. Um grupo de
navios prosseguiu o rumo para Sul durante cinco meses atingido o Cabo Frio,
onde construíram uma feitoria. O mapa de Maiolo (Fano, Itália, 1504) identifica o Brasil como "Terra de
Gonçalo Coelho".
Estas viagens foram durante muito tempo objecto de enorme
polémica, até que foi descoberta uma acta notarial de Valentim Fernandes de
Moravia, datada de 20/5/1503, integrada no códice de Peutinger, na Biblioteca
de Esturgarda, nas quais se confirma que Gonçalo Coelho chegou à altura do polo
Antártico, a 53 graus, "tendo
encontrado grandes frios no mar". Terá também chegado ao
arquipélago das Maldivas ou Falkand.
É
possível que não só tenha chegado ao extremo Sul do continente, como é evidente
pela análise do mapa de Waldseemuller de 1507, como tenha inclusive navegado na
costa ocidental da América do Sul. Há vários relatos que testemunham que
quando Fernão de Magalhães, em Outubro de 1520, chegou ao
estreito que actualmente tem o seu nome, tinha consigo um mapa da região.
O piloto genovês António Pigafetta nos relatos da 1ª viagem
à volta do mundo refere..." este [Fernão de Magalhães], tão
hábil como valente, sabia que era preciso passar por um estreito muito oculto,
que tinha visto representado numa carta feita pelo excelente cosmógrafo Martin
da Boémia, que o rei de Portugal D. Manuel I guardava na sua tesouraria."
Américo Vespúcio
Um espião ou aventureiro mentiroso?
Américo Vespúcio afirma que, após ter sido impedido de
embarcar na expedição de Vélez de Mendoza devido às recentes disposições régias
proibindo a participação de estrangeiros nos navios castelhanos com destino ao
poente, foi aliciado, segundo o seu testemunho, pelos "
nossos florentinos de Lisboa" no
sentido de se transferir para Portugal. O facto de Vespúcio ter desempenhado as
funções de feitor de Juanoto Berardi, que havia sido correspondente na
Andaluzia de Bartolomeu Marchioni, terá contribuído para que D. Manuel I
resolvesse incorporá-lo na expedição chefiada por Coelho com a
finalidade de efectuar uma prospecção dos produtos com interesse comercial
existentes na Terra de Santa Cruz.
Que quando regressou da viagem
de Gonçalo Coelho 1503-1504, D.
Manuel I confiscou-lhe os documentos de cariz náutico que estavam em sua posse,
nunca tendo procedido à sua devolução. Na sequência do retorno do
florentino a Castela, foi promulgado o Alvará de 13 de Novembro de 1504 que
proibia os cartógrafos, sob pena de perda dos bens, de representarem a costa a
partir do rio de Manicongo, facto que demonstra a preocupação régia em impedir
"a divulgação de qualquer notícia sobre a costa recentemente descoberta
Américo Vespúcio viveu em Portugal
entre 1499 e 1505,
nos
seus escritos divulgados por toda a Europa afirma
que participou nestas expedições de Gonçalo Coelho a mando do D. Manuel I.
Nunca foi encontrado qualquer registo da sua participação nas mesmas. As suas
alegadas descobertas, com as quais pretendeu ocultar os feitos de Colon, foram
elaboradas com base em relatos dos marinheiros portugueses, com quem contactou
durante os 5 anos que viveu em Lisboa.
O mais que Vespúcio fez, foi
aproveitar-se (deixando-se aproveitar...) de tudo quanto os outros fizeram,
inclusive de boa parte do conhecimento de navegação e instrumentos náuticos. A
sua fama assenta nisso, e nada mais!...
Brazil of Portugal
No "Magagion" do ano de 1376,R. of Taliensen, XII,
144), consta "...and Brazil of Portugal" . Portanto, essa era a
expressão inglesa para definir essa área das terras da grande placa continental
sul-americana que os portugueses colonizaram mais tarde : "... o Brasil de
Portugal!".
Raquel de Souza cita ainda navegadores que deixaram
referências escritas sobre a existência do Brasil:
Em 1375, um cartógrafo de Maiorca
foi enviado ao Vaticano pelo rei Carlos V, da França, com a missão de copiar,
corrigir e ampliar o mapa português original, de acordo com alterações feitas
entre 1343 e 1375. Essa carta geográfica encontra-se na Biblioteca Nacional de
Paris (vidé Etnografia, 11, 132.c.XVI) podendo nela ser vista a ilha de Brasil,
sua formação e localização geográfica na América do Sul. No British Museum, em
Londres, encontra-se o mapa-múndi de Ranuulf Nyggeder, datado de 1360, onde
consta já inscrita essa "Ilha do Brazil". Sua posição é idêntica à do
mapa do rei de França, Carlos V. O Brasil também é mencionado em outras três
cartas geográficas: a de Andreia Bianco; a de Becchario e a de Nicolo Zeno.
No século XIV, os planisfério dos cartógrafos Solleri,
Mediceu Branco e Pinelli já mostravam uma ilha Brasil, situada sempre a
ocidente do arquipélago dos Açores. O renomado historiador brasileiro Sérgio
Buarque de Holanda era de opinião que a origem de tal nome é uma lenda céltica
que fazia referência a uma "terra de delícias" envolvida em núvens.
Mas a primeira carta geográfica onde aparecem referências inequívocas ao Brasil
real é o mapa de Cantino, no qual se podem ver papagaios, florestas e o
contorno do litoral brasileiro - terra de Pindorama, como era denominada pelos
índios - , desde o norte ao sudeste.
Um
cartógrafo português, cuja traição foi descoberta tardiamente mas punida com a
pena capital e seu sobrenome e o de todos os seus descendentes condenados ao
perpétuo olvido, tê-lo-ia vendido em 1502 ao espião italiano Alberto Cantino, o
qual o enviou secretamente ao seu senhor, o duque de Ferrara, que por esse
documentou pagou uma soma muito avultada.
Oficialmente, porém, as únicas viagens de espanhóis e
portugueses ao Brasil até áquele ano haviam sido as de Vicente Pinzón, ao
estuário do Amazonas, e a de Pedro Álvares "Cabral" (que apenas por
concessão real assim era chamado pois não sendo ele filho primogênito, na
verdade o direito consuetudinário a tal não autorizava nesse tempo) até onde
hoje é a Bahia. Como explicar, então, esse minucioso desenho do litoral
brasileiro desde Cabo Frio até ao Amazonas?!
Consequentemente,
já existia então um conhecimento seguro da configuração litorânea dessas terras
a oeste do Atlântico. Além de 4 000 quilômetros do litoral brasileiro aparecem
nesse mapa a Flórida, a Terra Nova (hoje Canadá) e a Groenlândia.
Historiadores portugueses dos nossos dias como Luciano
Pereira da Silva e Jorge Couto são de opinião que Duarte Pacheco Pereira, o
mesmo que tinha sido negociador do Tratado de Tordesilhas e autor do
"Esmeraldo de Situ Orbis"(1505) deixou indícios de que estivera no
Brasil cuja costa do Maranhão e a foz do rio Amazonas teria visitado quatro
anos após a assinatura do tratado, ou seja, em 1498. Ele (que foi um dos
capitães da expedição comandada por Pedro Álvares Cabral) teria recebido a
incumbência real de explorar a Ilha do Brasil identificando suas coordenadas
astronômicas.
No "Esmeraldo do Situ Orbis", Pacheco afirma que
"é achada e navegada uma tão grande terra firme com muitas grandes
ilhas adjacentes a ela que se estende a setenta graus de ladeza da linha
equinocial, contra o pólo ártico".
Entre essa versão
e o facto guardavam rigoroso sigilo os sucessores dos monges cavaleiros
Templários, ou melhor, os cavaleiros da Ordem de Cristo, financiadores e
patrocinadores dessas expedições que deram sumiço aos documentos
comprometedores.
A eles se ficou, afinal, devendo, sob o comando do
grão-mestre Infante D.Henrique, a grande gesta ultramarina lusitana, em sua
épica arrancada. Por isso, as caravelas e as naus exibiam em suas velas
redondas a Cruz dita "de Cristo", símbolo da extinta Ordem primeva...
cujos sobreviventes da "grande queima" da Inquisição que, sob a
acusação de heresia, em Paris assassinou 500 monges cavaleiros num só dia;
portadores de uma parte do tesouro da Ordem, teria eles sido acolhido e
protegido pelo genial rei D.Dinis que providenciou a criação da nova face da
instituição, alojando-a no Castelo de Tomar, com o beneplácito do Papa de Roma
a quem o monarca português devia obediência.
Um
outro personagem que não pode nem deve ser esquecido no meio deste imbróglio
ainda não esclarecido, é o célebre Mestre João... Se Pero Vaz de Caminha
foi o cronista da célebre CARTA, Mestre João foi o cartógrafo e o primeiro a descrever a navegação,
por meio de instrumentos, e a dizer onde estava o Brasil.
Ao crepúsculo de 1º de Maio de 1500, sob a luz bruxuleante
de uma candeia, ele pegou a pena e redigiu o seu relato, breve e conciso, que
viria a ser a única prova da sua participação na aventura. A certidão de
nascimento do Brasil, escrita por Pero Vaz de Caminha, ficaria perdida até
Fevereiro de 1773, ano em que foi redescoberta pelo guarda-mor da Torre do
Tombo, José Seabra da Silva.
Mas a carta de Mestre João, essa, só seria encontrada em
1843 pelo historiador brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagem, também no meio
da papelada imensa da Torre do Tombo. Desde essa altura iniciou-se uma pesquisa
polémica em torno desse tal Mestre João... Quem fora ele? Por que escreveu essa
carta em espanhol e não em português? Seu nome era João ou Juan? Seria ele um
tal mestre João Menelau citado em outras crônicas quinhentistas?
O historiador português Sousa Viterbo chegou à conclusão de
que Mestre João era Joam Farás, bacharel em artes e medicina, físico e
cirurgião particular do rei D. Manoel I, O Venturoso. Esse Joam Farás era um
judeu converso natural da Galiza, em Espanha, e crê-se que tenha se fixado em
Portugal por volta de 1485, tendo sido o tradutor do livro De Situ Orbis (Uma
Descrição do Mundo) escrito em latim clássico, no século I d.C., pelo geógrafo
romano Pompônio Mela, nascido na Península Ibérica. Foi devido a essa tradução
que Sousa Viterbo conseguiu identificar Mestre João, também astrônomo de D.
Manoel que diariamente queria saber o que lhe revelavam os astros... Mas, qual
é, afinal, a relação existente entre esse Mestre João e a "descoberta"
do Brasil? É que ele, na tal carta que enviou ao rei D. Manoel, escreveu o
seguinte:
" Mande Vossa Alteza trazer um mapa-múndi que tem Pero Vaz
Bisagudo e por aí poderá V.ª ver o sítio desta terra; mas aquele mapa-múndi não
certifica se esta terra é habitada ou não; é mapa antigo e ali achará Vossa
Alteza escrita também a (fortaleza da) Mina".
O historiador português Carlos Malheiro Dias, em 1921,
descobriu em velhos documentos um Pero Vaz da Cunha " d´alcunha Bisagudo,
capitão-mor da armada de vinte galés enviadas
"com muita e luzidia gente, assim d´armas como oficiais, para a
construção da fortaleza da Mina".
Embora Bisagudo haja realmente existido, ignora-se que mapa
era esse ao qual o Mestre João se referiu, sabendo-se apenas que a cartografia
da época mostrava usualmente dezenas de ilhas misteriosas e lendárias, sendo
uma dessas, havida como uma espécie de "paraíso
perdido", chamada de Hy Brasil., que já aparecera noutros mapas
importantes como os atrás destacados, um dos quais do genovês Andréa Bianco, em
1448, e ainda outros como o do médico e astrônomo florentino Paolo Toscanelli,
em 1474 - que inspirou Colombo, ao que parece também judeu português, Colon, e
não genovês, a buscar as Índias pela rota do oeste.
O mapa do almirante turco Piri Reis, idem, e no primeiro
globo idealizado, em 1484, pelo alemão Martim Behaim, outro judeu, como quase
todos eles o eram, o Brazil não foi esquecido...
Em Outubro de 1969, em Viena de Áustria, aonde nos
deslocáramos em visita oficial, a convite do governo federal e da Prefeitura
Municipal da capital austríaca, tivemos a companhia do então jovem catedrático
Prof. Doutor Günther Hamann, ao tempo director do Centro de Estudos Históricos
da Universidade de Viena, que acabara de editar a sua monumental obra, em
alemão, jamais traduzida para a língua portuguesa, dedicada aos Descobrimentos
Ibéricos e em particular aos dos Portugueses que aquele renomado historiador
admirava em particular chegando ao ponto de considerar que esses feitos só
encontraram paralelo na recente conquista da Lua por astronautas da NASA e que
se alguma vez seu país viesse a ser de novo anexado por uma potência
estrangeira, a nacionalidade que ele desejaria adotar seria... a Portuguesa. O
Prof. Hamann
referiu-se-nos também à redescoberta do Brasil observando que esse feito de
Cabral simbolizara somente a oficialização política do que já fôra descoberto
de facto, vários anos antes, por navegadores lusitanos... Destacou a política
de "segredo" que então se praticava e a espionagem que genoveses e
espanhóis tinham organizado em Lisboa.
Cronologia de algumas viagens conhecidas.
1336: Primeira expedição portuguesa
às ilhas Canárias; houve mais
duas expedições em 1340 e 1341
1342: Viagem do Capitão Sancho Brandão a ilha do Brasil (Fez referencia
as ilhas dos Açores)
1343: Portugal Anuncia ao Papa a
"Descoberta" da Ilha do Brasil Oficialmente
1408: tentativa
de passagem do “Cabo Não”, por António Calaforro e Lopo de
Santarém.
1409: tentativa
de passagem do “Cabo Não”, por Jacob de Navarra e Pedro de
Maiorca.
1410: Passagem do
“Cabo Não”, por Lopo de Santarém.
1412: Primeiras
expedições ao litoral africano e “Ilhas Canárias” ordenadas pelo Infante D.
Henrique.
1424 - Expedição
militar às Canárias sob o comando de D. Fernando de Castro.
1424: Os portugueses atingiram a costa
Americana as verdadeiras "Antilhas",
reconhecendo sucessivamente as ilhas "Saya" Península Avelon,
"Satanazes" Terra Nova, "Antília" Nova Escócia,
"Ymana" Ilha Príncipe Eduardo, como pode ser comprovado pela Carta
Náutica de 1424 onde estão gravadas nitidamente a data de 22 de Agosto de 1424
e o nome do seu autor, Zuane Pizzigano, um cartógrafo italiano de Veneza.
Apesar do mapa ter sido feito por um italiano os nomes das quatro ilhas —
Antília, Satanazes, Soya, e Ymana — estão escritos em português a testemunhar,
portanto, a ida e volta de navegadores portugueses a Terras da América do
Norte, antes de 1424! Esta descoberta das verdadeiras Antilhas, deve-se ao Dr.
Manuel Luciano da Silva.
1427: Descoberta dos "Açores". No regresso de uma viagem
pelo mar largo, o piloto Diogo de Silves desembarca na
ilha de "Santa Maria", cuja colonização e povoamento se inicia em
1431 por Gonçalo Velho Cabral.
1452 Diogo de Teive e
seu filho João descobrem a ilha das Flores e chegam à latitude da terra do Lavrador, não desembarcando
pelo mau tempo no local.
1455: Vicente Dias a descoberta da ilha de S. Cristóvão (Boavista) do arquipélago de Cabo
Verde,
1459: Diogo Gomes e António Noli (da Nola) Descobre da ilha de Santiago
do arquipélago de Cabo verde
1460: Diogo Gomes e António de Noli descobrem mais algumas ilhas
do arquipélago de "Cabo Verde".
1461: Diogo Afonso descobriu as ilhas ocidentais de "Cabo
Verde".
1462, João Vogado requer a Afonso V os direitos de donatário das
ilhas do Lobo e Caprária, que tinha avistado numa anterior viagem e que
pretendia procurar de novo, para delas tomar posse. O rei concedeu-lhe o
requerido mas as ilhas nunca apareceram.
1471 A descoberta do Brasil foi
concluída. A partir deste ano sucedem-se os relatos de viagens de
exploração da costa brasileira.
1471: João de Santarém e Pero Escobar ultrapassam o Equador e
descobrem as ilhas de São Tomé e Príncipe e Ano Bom. Iniciaram também a
navegação pelo Cruzeiro do Sul.
1472- João Vaz Corte
Real Descobre a Terra de João Vaz, ou Terra Nova, ou Terra dos Bacalhaus,
na América do Norte. O verdadeiro "descobridor
da América Norte".
1472: Viagem à Groenlândia e Terra Nova, ou Terra dos Bacalhaus; a
expedição é chefiada por, João Vaz Corte-Real e Álvaro Martins Homem.
1473: chegou em
Lisboa o açoriense Fernando Telles,
mostrou o seu roteiro e apresentou o mapa duma longa costa, com muitas ilhas, furos
e rios, declarando que essa costa pertencia à grande ilha das sete cidades. Era a costa do Norte do Brasil,
entre Maranhão e Ceará, com o delta do rio Parnaíba.
1473 Lopo Gonçalves (cujo nome se transmitiu ao
Cabo Lopo Gonçalves, hoje conhecido por Cabo Lopez) ultrapassou o Equador.
1474, Navegador cruzado João Vaz da Corte Real Exploro Ilha de
Antília o Caribe e foi até a Terra Nova (o Canadá).
1476: João Coelho visita algumas ilhas das Caraíbas; dirige-se para Ocidente, visitou algumas ilhas das Antilhas
(sendo elas as actuais Antilhas ou ilhas mais a norte na costa sul-americana) ia
a bordo de um dos seus navios um marinheiro de nome, Salvador Fernandes
Zarco, futuro Cristóvão Cólon, pseudónimo ou firma, utilizado ao
serviço de Espanha a partir de 1492.
1479 - Tratado de
Alcáçovas, confirmado no ano seguinte em Toledo.
148? Nicolau Coelho viagem ao Brasil. Pero Vaz de Caminha
descrever a primeira missa em solo brasileiro, diz que Nicolau Coelho trouxe
muitas cruzes, com crucifixos que "haviam ficado da outra vinda".
1487 Viagem à América
de Fernão Dulmo e João Afonso Estreito, acompanhados de Martim Behaim, que registou,
depois, no globo terrestre que construiu e no mapa do erário real português, a
existência da península da Florida, das Antilhas e do golfo do México.
1487 Pedro Vaz da Cunha, o Bizagudo, partindo de São Jorge da
Mina no Gana - dirigiu-se para a costa do Brasil, onde terá feito o primeiro
mapa das suas costas.
1487 João Fernandes Andrade fez idêntica viagem.
1487/1488 João Coelho de Lisboa, comandou uma expedição ao Senegal, na
ida ou na vinda terá aportado às Índias. A afirmação é de Estevão Fróis, em
1513, que foi preso pelos espanhóis no Haiti (Hispaniola), território que
segundo o Tratado de Tordesilhas pertenceria a Espanha.
1489/92: Os
portugueses realizam viagens de exploração no Atlântico Sul com vista a
descobrir o regime de ventos, Duarte Pacheco Pereira é
pioneiro.
1490: Partida de Salvador Fernandes Zarco “Colon” para Espanha saindo de
Portugal como agente secreto do monarca português. D. João II, com o objectivo
de desviar as atenções da descoberta do caminho marítimo para Índia que os
Portugueses há muito procuravam.
1492: Salvador Fernandes Zarco “Cólon”., numa tentativa de chegar
à Índia pelo Ocidente atingiu oficialmente as "Ilhas das Caraíbas",
região que ficou na posse da coroa espanhola, ilhas que já conhecia quando navegou com João Coelho em 1476.
1492 João Fernandes e Pedro de Barcellos descobrem, entre 30 de
Janeiro e 14 de Abril, a terra do Lavrador.
1492: Salvador Fernandes Zarco “Cólon”,
numa tentativa de chegar à India pelo Ocidente atinge as Caraíbas, região que
ficou na posse da coroa espanhola, ilhas que já conhecia quando
navegou com João Coelho em 1476.
1493: 6 De Março
de Chegada de Salvador Fernandes Zarco Colon a Lisboa
no regresso da viagem onde se encontra com D. João II.
1493. 25 De
Setembro Início da segunda viagem de Salvador Fernandes Zarco
Colon.
1494: 7 de Junho
de “Tratado de Tordesilhas". Depois de mediação papal, Portugal e Espanha
dividem entre si os territórios recém descobertos. A linha divisória era o
meridiano que passava 370 léguas a Oeste das ilhas de Cabo Verde, ou seja 46º
37' W, ficando Portugal com todas as terras descobertas ou a descobrir a Oeste
desse meridiano, excerto as ilhas Canárias.
1494: Duarte Pacheco Pereira, um dos negociadores do "Tratado
de Tordesilhas", calcula, com erro inferior a 4%, o comprimento do grau do
meridiano em 18 léguas, ou seja 106,56 Km ou 57,5 milhas marítimas. O grau de
meridiano são 111 Km e 111 metros.
1494 Afonso Gonçalves,
piloto, em Novembro de 1494, zarpou na direcção do Brasil, tendo sido
recompensado por carta régia de 11.6.1497
1495: Viagem dos navegadores João
Fernandes, o Lavrador e Pêro de Barcelos à Groenlândia e Terra de Lavrador
1496: Regresso de
Salvador Fernandes Zarco Colon a Espanha no
final da sua segunda viagem
1497 Vasco da Gama,
caminho da India
1497: partida de Lisboa da armada de Vasco da Gama que se
destinou à descoberta do caminho marítimo para a Índia. Faz escala no Brasil
1498: 20 de Maio Vasco da Gama completou o descobrimento
do caminho marítimo para a "Índia", contornando o Sul do continente
africano, chegando a "Calecute".
1498 Duarte Pacheco Pereira, fez uma longa viagem de exploração
não apenas pelas costas do Brasil, mas também pela da Venezuela, deixando-nos
um relato preciso do facto.
1498 Dezembro a Maio de 1499 explorou profundamente o Amazonas,
1498: Partida de Salvador Fernandes Zarco Colon, da sua terceira viagem com
destino às Caraíbas.
1498: Agosto Salvador Fernandes Zarco Colon é preso e deportado para
Espanha devido a abusos por parte de seu irmão Bartolomeu Colon.
1499 D. Manuel faz a doação a João
Fernandes Lavrador da capitania da ilha ou ilhas que elle descobrir
ou achar novamente. Não tendo meios para custear a expedição, João Fernandes
Lavrador associou-se a Francisco Fernandes e João Gonçalves, escudeiros, naturais
dos Açores, e com tres negociantes ingleses de Bristol, os quaes,
provavelmente, forneceram o capital preciso, e com elles obteve do rei Henrique
VII da Inglaterra nova carta de doação das terras que descobrisse.
Ora, João Fernandes Lavrador, quando organizou a expedição,
já sabia da existência da terra que _ia achar_ porque nella estivera com Pedro
de Barcellos de Janeiro a Abril de 1492, e o fim de sua expedição com os
negociantes de Bristol não era outro senão tomar posse da terra anteriormente
achada.
1500: Fevereiro Ao
chegar a Cádiz, Colon é imediatamente libertado, assim terminando a sua
terceira viagem.
1500 Pedro Álvares Cabral, em 1500,
largou de Lisboa com destino à Índia, mas também com a missão primordial de oficializar a
descoberta do Brasil,
1501 e 1502.Viagens à Terra Nova dos irmãos
Gaspar e Miguel Corte-Real que desaparecem respectivamente , Miguel ainda se encontra vivo em 1511, conforme se poderá concluir
pelas inscrições da Pedra de Dighton.
1501 João da Nova, capitão-mor da terceira armada da Índia, passa
pelo Brasil para tomar refresco na Terra de Santa Cruz.
1501 5 de Maio. Fernão de Noronha descobriu a ilha que tem o seu nome,
"Ilha Fernão de Noronha".
1501 A ilha de Santa Helena e
Ascensão foram descobertas pelo navegador João da Nova, João da Nova dirigia-se à Índia
1502: Início da
quarta viagem de Salvador Fernandes Zarco Colon.
1503 Gonçalo Coelho chegou à altura do polo
Antártico, a 53 graus, "tendo encontrado grandes frios no mar".
Terá também chegado ao arquipélago das
Maldivas ou Falkand.
1503: De regresso
da Índia, Estevão da Gama
descobriu a ilha de Santa Helena.
1504: várias
viagens efectuadas por Manuel e Pedro
Barcelos, da casa de Barcelos para a costa Atlântica do Canadá, onde
colonizaram a ilha de Sable ou de
Barcelona, de ovelhas, cabras, bois, porcos e cavalos
1505. Afonso de Albuquerque descobre a ilha de Ascensão, Portugal nunca colonizou a ilha, só vindo a ser ocupada em 1815
pela marinha britânica.
1506 Tristão da Cunha. O
arquipélago foi descoberto pelo navegador português Tristão da Cunha, que deu o
seu nome à ilha, mas que não pôde atracar devido aos penhascos de mais de 600
metros de altura. Tristão da Cunha foi mais tarde anglicizado para Tristan da
Cunha, nome oficial da ilha em todas as línguas, excetuando-se o português.
1514: João de Lisboa descobriu o “Rio Prata” na costa da América
do Sul.
1516-1519 –
Expedições guarda-costas portuguesas, para combater espanhóis e franceses.
1519: Saiu do
porto de San Lucar de Barrameda a frota de Fernão de Magalhães
rumando ao Novo Mundo e que iria efectuar a primeira viagem de circum-navegação
do Globo por Fernão de Magalhães e Juan Sebastian Elcano. Dos 5 navios que
iniciaram a viagem apenas um regressou; Magalhães morreu na ilha de Matan, nas
Filipinas, num combate com os indígenas.