Histórias Perdidas da Lusitânia
Para recriar a vida e os costumes dos povos pré-romanos
que habitaram o território de Portugal o autor recorreu às informações que a
história, a arqueologia e a linguística nos revelam, mas pretendendo criar um
mundo de fantasia permitiu-se alguns anacronismos e outras cedências à
imaginação. Assim, a acção de Histórias Perdidas da Lusitânia decorre
durante a Idade do Bronze, época que precede em alguns séculos as primeiras
referências à presença dos Lusitanos na Península Ibérica. Para além disso, uma
das fontes usada para a construção desta Lusitânia foi a obra Monarquia
Lusitana, escrita no século XVI, por Frei Bernardo de Brito. Trata-se da
primeira História de Portugal escrita em língua portuguesa, na qual o autor
relata um passado fantástico dos Lusitanos e faz referência a uma pouco
credível dinastia de reis ibéricos fundada por Tubal, neto de Noé.
As Histórias Perdidas da Lusitânia contam-nos
que os primeiros habitantes da Lusitânia e da Galécia foram os Estrímnios
(Oestrimni). Nesse tempo estes dois territórios tinham
por nome Estrímnia e durante milhares de anos os Estrímnios
habitaram-na, protegidos pela Deusa-mãe, que lhes garantia a fertilidade dos
campos e dos animais. Não se sabe qual é a origem deste povo, pois é tão antigo
que não há memória que registe os acontecimentos dos tempos em que ele surgiu.
Da Deusa-mãe receberam o conhecimento que lhes permitiu erguer grandes
construções: sepulcros majestosos com que os homenageavam os seus mortos,
simulando o retorno ao útero da deusa; e recintos sagrados, nos quais erguiam
grandes pedras verticais, de cuja finalidade guardaram segredo.
Um dia, pouco depois do Dilúvio – ninguém sabe como
sobreviveram os Estrímnios ao Dilúvio. vindos de leste,
chegaram os Sefes, (ou saefes,ou ofis,
do grego όφις, de onde também Ophiussa, terra das
serpes) guiados pela sua deusa-serpente, Ofiusa. chegando
á Península Ibérica arredor do 900 A.C. a
través dos Pireneos.
Estes eram menos numerosos que os Estrímnios, mas os últimos
eram um povo de agricultores pacíficos e os Sefes, além de bons guerreiros,
possuíam sacerdotes que eram senhores de uma magia malévola e quase
exterminaram os Estrímnios, tendo sobrevivido apenas alguns povoados dispersos
pelo território que antigamente dominavam.
Mais tarde chegaram à Hispânia os Galaicos e
os Lusitanos, tendo encontrado vestígios da grande destruição
causada pela guerra que os Sefes moveram contra os Estrímnios – povoados
destruídos, campos de cultivo arrasados, sepulcros violados e reutilizados
pelos Sefes – e povo de Ofiusa reagiu com violência à chegada destes novos
povos ao território que tinha acabado de conquistar.
Então iniciou-se uma guerra que os Sefes perderam, tendo
ficado confinados a um pequeno território. Os deuses galaicos e lusitanos
impediram a deusa-serpente de se intrometer no conflito e a superioridade
guerreira destes dois povos impôs-se à poderosa magia dos Sefes, que foram
empurrados para o estremo noroeste da Hispânia.
Depois da guerra instaurou-se uma dinastia de réis,
descendentes de Tubal, neto de Noé, que unificou todos os povos da
Hispânia. Durante cinco séculos a Hispânia foi governada por soberanos que
a tornaram um reino próspero e desenvolvido, mas quando morreu Ulo, era
tanto o amor que dedicavam a este rei, que os Lusitanos se recusaram a aceitar
o seu sucessor e retiraram-se para os territórios montanhosos do interior,
chorando o seu último soberano.
O deus Larouco quis interferir para evitar o desmoronamento
do reino, ou pelo menos para manter os Galaicos, o povo que tutelava, unidos
como nação, mas os outros deuses impediram-no, considerando que chegara o tempo
em que os homens deveriam tomar o controlo dos seus actos. Irritado, Larouco
quis voltar à terra dos deuses, mas Endovélico não lho permitiu, por ainda não
ter chegado o momento destinado a isso. Então um dia, Larouco destruiu a
fortaleza onde vivia e desapareceu.
Decorreram muitos anos durante os quais os homens sábios e
grandes réis da Hispânia morreram sem surgirem outros à altura de lhes
herdar o trono. Os Lusitanos, o povo mais forte da península, entregara-se a
uma profunda depressão, emigrado nos ermos montanhosos, vivendo como se
recusasse o futuro e arrastando a Hispânia para o declínio. As grandes cidades
foram abandonadas e a sabedoria dos grandes reis perdeu-se.
Os Sefes aproveitaram este enfraquecer da península
iniciando novas batalhas e conquistas, espalhando o seu poder e as trevas pela
Hispânia.
No entanto, no sul subsiste um reino repleto de tesouros,
que guarda o conhecimento dos tempos antigos em rolos de papiro, constrói
grandes casas como as de antigamente e tem uma poderosa frota de barcos nos
quais marinheiros viajam e comerceiam com povos distantes. Esse reino chama-se
Tartessos, mas entre os Lusitanos e Galaicos, há quem duvide que a sua
existência seja mais que uma lenda.
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