Geopolítica da crise europeia e o futuro de Portugal
Um País que deixou de ser uma Nação
Em termos simples, a geopolítica trata da influência que as características geográficas dos estados (extensão, configuração e posição) têm na natureza dos seus respectivos interesses.
Citando o exemplo de Portugal, são seus interesses "permanentes"
equilibrar eventuais pressões políticas provenientes do continente europeu com
relações a ocidente (através do mar), assim como uma Península Luso-espanhola
multipolar, em vez de bipolar.
A actual crise europeia é influenciada pelos efeitos de duas alterações
geopolíticas recentes. A reunificação da Alemanha, na sequência do fim da
Guerra Fria, que Mitterrand e Thatcher tentaram evitar com receio das suas
repercussões geopolíticas; e a mudança substantiva dos centros de poder mundial
provenientes da emergência de grandes potências do Sul e do Oriente,
materializando-se na modificação
do esforço estratégico dos EUA, retraindo forças militares da Europa e
concentrando-as na Ásia/Pacífico.
A reunificação alemã reconstituiu a configuração geopolítica da segunda guerra mundial. A mudança do esforço norte-americano para a Ásia confere, dentro de limites precisos (os EUA querem manter o Atlântico Norte como "lago" norte-americano), certa liberdade de ação ao jogo de poder europeu.
Este regresso ao espaço geopolítico da segunda guerra mundial fez ressurgir os dois grandes centros de poder do Centro e do Leste do continente: Moscovo e Berlim. A Oeste, os EUA, como "potência europeia", continuam como único centro de poder capaz de colmatar as fragilidades dos países que foram centros de poder no passado, França e Reino Unido.
A reunificação alemã reconstituiu a configuração geopolítica da segunda guerra mundial. A mudança do esforço norte-americano para a Ásia confere, dentro de limites precisos (os EUA querem manter o Atlântico Norte como "lago" norte-americano), certa liberdade de ação ao jogo de poder europeu.
Este regresso ao espaço geopolítico da segunda guerra mundial fez ressurgir os dois grandes centros de poder do Centro e do Leste do continente: Moscovo e Berlim. A Oeste, os EUA, como "potência europeia", continuam como único centro de poder capaz de colmatar as fragilidades dos países que foram centros de poder no passado, França e Reino Unido.
Enquanto
o centro russo e alemão tenderão a polarizar os estados que mais lhes
interessem, o centro norte-americano, enquanto não percepcionar
uma ameaça na Europa, limitar-se-á a impedir que os principais estados europeus
ribeirinhos assumam um posicionamento hostil aos seus interesses no Atlântico.
Entre os interesses permanentes da Rússia e da Alemanha conta-se a necessidade de fronteiras defensáveis. É este interesse que impulsiona Moscovo a manter o Cáucaso, a Sul, e a avançar para o Báltico e para o controlo da Ucrânia a Oeste.
Entre os interesses permanentes da Rússia e da Alemanha conta-se a necessidade de fronteiras defensáveis. É este interesse que impulsiona Moscovo a manter o Cáucaso, a Sul, e a avançar para o Báltico e para o controlo da Ucrânia a Oeste.
A extensão da Rússia tem substituído linhas defensivas sólidas pela
condução de manobras retardadoras que desgastam o adversário ao longo das
linhas de comunicações, obrigando-o a retirar do território russo, o que
aconteceu com Napoleão e Hitler.
Quanto a Berlim, na ausência de obstáculos naturais
contínuos onde possa defender-se, sempre procurou avançar paras as costas
marítimas europeias, manobra seguida na primeira e na segunda guerra mundiais,
sem êxito.
Mesmo que Berlim não tenha tido a intenção de usar a crise das dívidas soberanas dos estados europeus do Sul - para já dos periféricos, eventualmente mais tarde dos outros -, para os submeter politicamente, a situação vem-lhe propiciando um quadro de decisões que têm funcionado nesse sentido.
Os métodos de apoio alemães aos países devedores têm exigido uma austeridade que se justifica, mas sem medidas claras de apoio ao crescimento económico, o que tem reforçado a dependência dos periféricos. Ou seja, a austeridade tem funcionado como instrumento estratégico de manutenção do poder sobre os países endividados, gerando reações negativas dos seus cidadãos.
Uma eventual alteração das orientações seguidas até agora - apoiando o crescimento económico da periferia europeia - proporcionaria uma melhoria de bem-estar à região, o que poderia alterar a natureza dos laços (e dependência) com Berlim, mas teria o risco de permitir situações de desenvolvimento económico que favorecessem o caminho para uma autonomia que desagradasse aos alemães.
Mesmo que Berlim não tenha tido a intenção de usar a crise das dívidas soberanas dos estados europeus do Sul - para já dos periféricos, eventualmente mais tarde dos outros -, para os submeter politicamente, a situação vem-lhe propiciando um quadro de decisões que têm funcionado nesse sentido.
Os métodos de apoio alemães aos países devedores têm exigido uma austeridade que se justifica, mas sem medidas claras de apoio ao crescimento económico, o que tem reforçado a dependência dos periféricos. Ou seja, a austeridade tem funcionado como instrumento estratégico de manutenção do poder sobre os países endividados, gerando reações negativas dos seus cidadãos.
Uma eventual alteração das orientações seguidas até agora - apoiando o crescimento económico da periferia europeia - proporcionaria uma melhoria de bem-estar à região, o que poderia alterar a natureza dos laços (e dependência) com Berlim, mas teria o risco de permitir situações de desenvolvimento económico que favorecessem o caminho para uma autonomia que desagradasse aos alemães.
Os periféricos obedecerão ao centro europeu enquanto
precisarem de dinheiro; ficam em condições de se subtrair ao seu domínio quando
forem criadas alternativas ao financiamento de que necessitam.
Veremos se o aumento substancial e generalizado, já anunciado, dos salários
dos trabalhadores alemães, fazendo aumentar o respetivo consumo, consegue
dinamizar as exportações dos países em crise para a Alemanha, substituindo a
dependência da periferia em relação ao núcleo por uma interdependência que
solidifique as relações mútuas, o que
satisfará o interesse alemão, alargando a sua influência e poder até às costas
marítimas.
Entretanto, se a Europa for evoluindo para a constituição de um bloco de poder continental a partir da Alemanha, Berlim não consentirá em relações políticas ou económicas dos periféricos com potências extraeuropeias. Assumirá diretamente esse relacionamento, colocando-se como candidato a integrar o governo mundial, ao lado de Washington, Pequim, Moscovo, Nova Deli e Brasília.
A consolidação deste bloco de poder poderá criar imensos problemas aos países ribeirinhos do Atlântico que o integrem, nomeadamente a Portugal, o que dependerá do posicionamento que uma Alemanha imperial adote em relação aos EUA, cuja posição de potência marítima dominante tem todas as condições para perdurar. Precisarão de manter na sua órbita o triângulo estratégico português (Lisboa/Funchal/Ponta Delgada), assim como as posições chave que lhes permitam dominar as linhas de abordagem marítima ao continente.
Como estas posições terão igual importância estratégica para o bloco
continental, será muito grande a probabilidade de elas serem disputadas entre
os dois grandes poderes (marítimo e continental), o que colocará novamente Portugal no caminho dos conflitos.
Vejamos a linhagem da pintura que vai desde o Ecce Homo de um mestre desconhecido, desde Nuno Gonçalves, do mestre da Lourinhã, de Vasco Fernandes até chegar a Gregório Lopes, a Cristóvão de Figueiredo e a Cristóvão Morais. E o Domingos Vieira que em 1635 pintou aquele assombroso retrato de D. Isabel de Moura só se pode entender no contexto amplamente ibérico que o influenciou e formou, não no do Portugal estabelecido cinco anos depois, onde o rei João IV se faria retratar pelo artífice Avelar Rebelo a quem mesmo um fidalgo de província como ele deveria ter tido vergonha de recorrer. Depois do hiato na pintura portuguesa quem veio? Josefa de Óbidos! Não era o mesmo país. Era um país diferente, com o mesmo nome.
Retomo o fio da minha reflexão, com João VI já no Rio de Janeiro. Alguns anos depois, rezam os manuais, o Brasil tornou-se independente. Mas isto é falso, quem se tornou independente em 1822, ou melhor, quem foi tornado independente contra a sua vontade, foi Portugal. No Brasil o herdeiro da coroa fez o que todos eles gostam de fazer quando podem, apressou um pouco a data do acesso ao trono, e na perfeita continuidade dinástica declarou que o Brasil dispensava a metrópole. Numa carta enviada ao pai em Junho de 1822 o príncipe Pedro, nas vésperas de se arvorar em imperador, definiu como «estados independentes» «os que de nada carecem, como o Brasil», e pondo os pontos nos is acrescentou: «Portugal é hoje em dia um estado de quarta ordem e necessitado, por consequência dependente».
O golpe militar de 25 de Abril de 1974, todos sabemos, não se destinou originariamente a acabar com o fascismo, mas a demitir um governo que não queria pôr cobro à guerra em três colónias, embora os oficiais e os soldados sentissem que era impossível vencer. O derrube do fascismo veio por acréscimo, uma espécie de brinde que obtivemos dos movimentos de libertação africanos. Mas merecemos-lo, porque durante um ano e meio fizemos qualquer coisa de inédito, que nunca havia sido experimentado no Portugal nascido em 1640, tentámos inventar um país dentro das fronteiras portuguesas. De uma maneira ou de outra, ou de várias maneiras ao mesmo tempo, a extrema-esquerda procurou em 1974 e 1975 criar um Portugal inteiramente novo, económica e socialmente, e que fosse um país original no mundo, capaz de trazer soluções diferentes, que ninguém tivesse feito nem visto. E fomos derrotados.
Os erros da geopolítica de Portugal
A triste figura da política externa subserviente, pretensiosa e invejosa de
um país com uma atávica mania de grandeza e baixa auto-estima.
Com o fracasso do éden global do Quinto Império, Portugal contenta-se agora
em emular e desejar a “grandeza” de alguns, em vez de se unir ao Sul emergente,
ao qual de fato pertence e ajudou a formar.
Opta pela miragem dos bárbaros do Norte .
A triste figura de Portugal e sua política externa subserviente, um país
que, um dia, pretendeu fundar o V Império (o que é o “Quinto Império” ” no contexto do colonialismo e do processo de descolonização ).
Se queria realmente um papel de proeminência, era ao lado das ex-colónias,
e do Sul de um modo geral, que tinha que se posicionar. Foi, mal ou bem, o
berço de muitos países que hoje despontam para um papel mais importante na
geopolítica mundial (por enquanto, Brasil à frente, disparado, mas, quem sabe
mais tarde, Angola, Moçambique e outros).
Mas não, continua com a velha convicção megalomaníaca (sem nenhuma conexão com
a realidade, desde há, no mínimo, quase 200 anos, mas poderíamos dizer até que
há mais tempo) de que é tão grande quanto certos outros. É desses outros que deduz a
“grandeza” que quer para si, e como nunca a alcança, segue-os como um
carneirinho.
Ausência completa de noção, quiçá um caso de distúrbio colectivo de
personalidade.
De frente para trás, alguns exemplos quixotescos recentes dessa
subserviência patológica e da mania de grandeza atávica, que ainda persistem :
1) Portugal, com assento temporário no Conselho de Segurança da ONU, vota, ao lado de Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha contra a resolução que condena o uso de mercenários e empresas de segurança privada. (lembrando o papel importante que essas entidades tiveram na recente intervenção na Líbia)
2) Portugal, com assento temporário no Conselho de Segurança da ONU, vota, ao lado de Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha a favor de uma resolução exigindo da Síria “o fim imediato de toda a violência”; (resolução derrubada pelo inédito veto conjunto de Rússia e China)
3) Portugal, membro da OTAN, propondo, em 2010, que a organização ampliasse a sua presença no Atlântico Sul, onde o país lusitano teria papel de destaque dada a proximidade histórica, afectiva e linguística com importantes nações sul-atlânticas. Isto estava no contexto da discussão sobre o novo papel global da OTAN, que ampliaria o seu escopo inicial restrito à Europa para o mundo inteiro, o que acabou por ser ratificado e assinado na Convenção de Lisboa, em 2010 (o papel global da OTAN, não o papel ridículo de Portugal).
Portugal não existe
“Sejamos realistas.
Olhemos para este lugar com uma visão diferente e pensemos tudo de novo, porque
Portugal não existe.“
Há três ou quatro anos atrás foi muito comentada uma sondagem em que 27%
dos inquiridos era favorável ao desaparecimento de Portugal através da
integração na Espanha. Entretanto, um estudo realizado pela Universidade de
Salamanca concluiu que 1/3 dos espanhóis aceitaria a união dos dois países.
Houve por aí um grande alarido. Espantaram-se uns, indignaram-se outros e a
minoria sentiu-se decerto aliviada pelo facto de sermos bastante menos
minoritários do que supúnhamos. Todavia, reina uma confusão quando se fala de
Portugal, porque se está a dar o mesmo nome a duas coisas muito diferentes.
Uma coisa é o Portugal que terminou em 1580 ao integrar-se nos domínios de
um Habsburgo do ramo ibérico; outra coisa é o Portugal onde sessenta anos
depois, aproveitando a crise do império dos Filipes, uma pequena conspiração
colocou no trono uma dinastia nativa.
Anónimo do séc. XV, Ecce Homo
Uma recente troca de comentários num artigo publicado neste site, em que eu perdi
algum tempo a participar, recordou-me até que ponto a extrema-esquerda padece
de uma indiferença à arte quando está fora do poder — porque quando obtém
alguma influência sobre os acontecimentos logo descobre que os artistas são os
piores inimigos se não forem úteis propagandistas. Mas eu, que considero as
artes plásticas o assunto mais importante da vida e também o mais
significativo, posso demonstrar rapidamente que se trata de dois Portugais
distintos.
Vejamos a linhagem da pintura que vai desde o Ecce Homo de um mestre desconhecido, desde Nuno Gonçalves, do mestre da Lourinhã, de Vasco Fernandes até chegar a Gregório Lopes, a Cristóvão de Figueiredo e a Cristóvão Morais. E o Domingos Vieira que em 1635 pintou aquele assombroso retrato de D. Isabel de Moura só se pode entender no contexto amplamente ibérico que o influenciou e formou, não no do Portugal estabelecido cinco anos depois, onde o rei João IV se faria retratar pelo artífice Avelar Rebelo a quem mesmo um fidalgo de província como ele deveria ter tido vergonha de recorrer. Depois do hiato na pintura portuguesa quem veio? Josefa de Óbidos! Não era o mesmo país. Era um país diferente, com o mesmo nome.
Domingos Vieira, Retrato de D. Isabel de Moura
O Portugal de antes de 1580 expandira-se por todo o lado, mas, em vez de
lhe esgotar a seiva interna, isso como que o renovara. E a par das espoliações
e das atrocidades restou uma cultura capaz de reflecti las, ao mesmo tempo
elogiosa e criticamente. Houve Camões e também Fernão Mendes Pinto e a História
Trágico-Marítima, e houve Diogo do Couto. Por isso aquele Portugal conta no
mundo. Pelo facto de enviar a sua gente desde o Japão até ao Amazonas o país
não deixara de existir no ocidente das Espanhas.
Mas o Portugal nascido em 1640, o país dos Braganças, da Josefa de Óbidos e
da doçaria freirática, foi incapaz de criar dentro das suas fronteiras uma
cultura própria. Enquanto a depauperação de Portugal era consagrada em 1703 com
a assinatura do tratado dito de Methuen, o Brasil desenvolvia-se
economicamente, e apesar de todo o ouro que João V de lá tirou, foi no Brasil e
não em Mafra nem em Lisboa no Largo da Misericórdia que se edificou uma grande arquitectura barroca, foi lá que surgiu uma inventiva escultura barroca, foi lá
que se fez ouvir uma corrente original de música barroca. Aliás, o pouco de bom
como algum do mau dos edifícios barrocos portugueses foi a arquitectos estrangeiros que se deveu. Já capital económica do império, o Brasil depressa
passara a ser também a sua capital cultural. Portugal tinha-se esvaziado de
conteúdo, o que havia estava no Brasil. E quando a metrópole quis aproveitar
simultaneamente Angola, apesar do engenho e da diligência de Francisco
Inocêncio de Sousa Coutinho, foi incapaz de fazê-lo. Portugal não chegava para
duas colónias ao mesmo tempo. Até que, fugindo a um general francês que nem
marechal era, o monarca foi levado pelos britânicos para o Brasil. E a colónia,
que já assumira a hegemonia económica e cultural, converteu-se na cabeça
política do império.
Avelar Rebelo, Retrato de D. João IV
Aliás, a propósito da fuga de João VI vale a pena reflectir em algo a que
geralmente não se presta atenção. Também a Espanha se encontrava sem família
real, que Napoleão atraíra a uma cilada e fizera prender. E isto não impediu
que toda a população espanhola se erguesse maciçamente contra o ocupante
francês numa guerrilha indomável e pertinaz. Os historiadores meditam por
vezes, sem resultado, sobre as razões que fizeram o povo espanhol revoltar-se
enquanto as nações de língua alemã permaneceram submissas a Napoleão e deixaram
os seus improvisados chefes guerrilheiros sem apoio e quase sem seguidores, só
tardiamente se sublevando alguns estados alemães. Mas a minha interrogação é
outra, e eu gostaria de saber por que motivo os portugueses, aqui, ao lado da
Espanha, não fizeram contra os invasores o mesmo que os espanhóis?
Retomo o fio da minha reflexão, com João VI já no Rio de Janeiro. Alguns anos depois, rezam os manuais, o Brasil tornou-se independente. Mas isto é falso, quem se tornou independente em 1822, ou melhor, quem foi tornado independente contra a sua vontade, foi Portugal. No Brasil o herdeiro da coroa fez o que todos eles gostam de fazer quando podem, apressou um pouco a data do acesso ao trono, e na perfeita continuidade dinástica declarou que o Brasil dispensava a metrópole. Numa carta enviada ao pai em Junho de 1822 o príncipe Pedro, nas vésperas de se arvorar em imperador, definiu como «estados independentes» «os que de nada carecem, como o Brasil», e pondo os pontos nos is acrescentou: «Portugal é hoje em dia um estado de quarta ordem e necessitado, por consequência dependente».
Josefa de Óbidos, O Menino Jesus Salvador do Mundo
Quando em Portugal as Cortes souberam que haviam ficado sem o Brasil
enviaram uma missiva ao poder executivo perguntando quantas e quais eram as
colónias portuguesas e, mais especificamente, se Timor e Solor pertenciam ou
não a Portugal. E note-se que os deputados daquela época eram o escol da nação,
os principais negociantes, os juízes mais cultos, os burocratas mais
instruídos, os oficiais do exército que sabiam matemática. Aquela interrogação
é duplamente curiosa, por um lado porque mostra a verdadeira dimensão do
império colonial. O que realmente contava para o Portugal gerado em 1640 era
uma metrópole colada como adesivo ao Brasil. Por outro lado, mais interessante
ainda me parece ser a reacção da elite política, económica e militar, que logo
que soube que ficara sem colónia a ocidente se lembrou de que existiam outras a
sul e no oriente. A elite portuguesa, reunida nas Cortes liberais, não pensou
na possibilidade de construir alguma coisa dentro das fronteiras do reino.
Com efeito, será o mais lúcido dos herdeiros do liberalismo vintista quem
irá orientar Portugal e os portugueses para África. A imperturbável coragem
física de Sá da Bandeira só tinha equivalente na sua enorme curiosidade
intelectual, e ambas alicerçaram uma notável inteligência prática. Mas ao
mandar os portugueses caminharem a partir das costas africanas, onde até então
se haviam localizado os seus empórios comerciais, para ocuparem espaços de
colonização no interior do continente e «construir outro Brasil em África», Sá
da Bandeira desencadeou um processo que forneceu a ocasião, quando não só o
pretexto, para um movimento idêntico por parte de metrópoles muitíssimo mais
poderosas. O tratado de Berlim e depois o ultimatum britânico, que
cercearam as aspirações africanas dos liberais portugueses, foram a
consequência última, e de todo imprevisível, do arrojo com que Sá da Bandeira
havia reconhecido a impossibilidade de dar nova vida a Portugal só nas
fronteiras ibéricas.
E foi o ultimatum britânico que ditou a falência da monarquia,
mostrando que os Braganças eram incapazes de levar a cabo a regeneração do país
pelo colonialismo, uma vocação que Eça de Queiroz enunciou simbolicamente
através da regeneração da casa ilustre de Ramires. Tornada patente e pública a
inépcia da coroa nas questões coloniais, o Partido
Republicano, que até à data do ultimato fora visto como um clube de lunáticos, adquiriu um crescente
apoio popular, que lhe possibilitaria vinte anos depois espantar o rei para a
Ericeira e após dois dias de canhoneio na capital proclamar a república.
Logicamente, o Partido Democrático não poderia senão precipitar o país na
primeira guerra mundial, para que Portugal se sentasse ao lado dos vencedores
aquando da distribuição dos despojos, e já que decerto não receberia nada —
ninguém contava com isso — pelo menos que não perdesse o que tinha.
Salazar foi, nesta perspectiva, inteiramente lúcido quando, em Março de
1961, proclamou «para Angola, e em força». Os «ventos da mudança» de que os
outros falavam não sopravam aqui, porque a Grã-Bretanha pôde ver as suas
colónias emanciparem-se sem que houvesse quaisquer riscos de perda de
identidade da metrópole. Nem a França, ou mais exactamente Paris, deixou de ser
o que era pelo facto de a África Ocidental e Equatorial Francesa, Madagáscar e
a Indochina terem deixado de ser o que haviam sido. Até a pequenina Holanda
soube ser um país estritamente europeu, próspero na economia e modelar na
cultura, sem as suas Índias Orientais. Mas Portugal?
O golpe militar de 25 de Abril de 1974, todos sabemos, não se destinou originariamente a acabar com o fascismo, mas a demitir um governo que não queria pôr cobro à guerra em três colónias, embora os oficiais e os soldados sentissem que era impossível vencer. O derrube do fascismo veio por acréscimo, uma espécie de brinde que obtivemos dos movimentos de libertação africanos. Mas merecemos-lo, porque durante um ano e meio fizemos qualquer coisa de inédito, que nunca havia sido experimentado no Portugal nascido em 1640, tentámos inventar um país dentro das fronteiras portuguesas. De uma maneira ou de outra, ou de várias maneiras ao mesmo tempo, a extrema-esquerda procurou em 1974 e 1975 criar um Portugal inteiramente novo, económica e socialmente, e que fosse um país original no mundo, capaz de trazer soluções diferentes, que ninguém tivesse feito nem visto. E fomos derrotados.
Não creio que a esquerda anti capitalista apesar de contar já dois séculos
de derrotas sucessivas — e, naturalmente, no combate ao capitalismo só poderá
haver uma vitória, que é a última — se tenha apercebido até que ponto as
derrotas são profundas quando são impostas no plano social mais do que no
político. No plano social as derrotas consistem na verdadeira desorganização e
reorganização da classe trabalhadora, na destruição dos seus elos mais fortes
de solidariedade, na dissolução dos seus centros de resistência tradicionais,
no apagamento da sua memória e numa re-hierarquização interna, que é a condição
da submissão aos exploradores. E assim, fracassada a tentativa de 1974 e 1975,
voltámos plenamente ao Portugal de 1640, incapaz de existir nas suas fronteiras
próprias porque é desprovido de tudo, e já sem lugar para onde ir além dos
mares.
A adesão de Portugal à Comunidade Europeia foi um logro para os outros países europeus, que pensaram que tinham adquirido alguma coisa e afinal ficaram só com um terminal de camiões TIR e umas dezenas de centros comerciais e de estádios de futebol. Um país sem economia, e sem vida autónoma nem identidade cultural também.
Tudo o que a esquerda
portuguesa consegue hoje fazer é reclamar ao primeiro-ministro que adopte outra
política, como se Lisboa fosse um centro soberano e o governo pudesse escolher. A adesão de Portugal à Comunidade Europeia foi um logro para os outros países europeus, que pensaram que tinham adquirido alguma coisa e afinal ficaram só com um terminal de camiões TIR e umas dezenas de centros comerciais e de estádios de futebol. Um país sem economia, e sem vida autónoma nem identidade cultural também.
A soberania das principais nações entrou em declínio desde que as grandes
companhias industriais e de serviços adquiriram uma dimensão trans nacional e
puderam iludir as determinações dos governos, e desde que os grandes bancos e
as grandes companhias financeiras se tornaram igualmente trans nacionais e
deixaram de ser fiscalizados nos espaços nacionais.
Para um país como Portugal,
cuja economia é responsável por apenas 1,8% do Produto Interno Bruto da zona do
euro, não é sequer de declínio da soberania que se deve falar, mas de extinção.
O governo, quem quer que seja o primeiro-ministro, não pode adoptar outra
política além da ditada em Bruxelas e no Banco Central Europeu. E como
considerar o recente interesse pela eleição de um presidente da República senão
como um exercício de futilidade? O governo não existe. E existe Portugal? O
Portugal de 1640 só conseguiu subsistir projectado em espaços coloniais. E o
Portugal de 1974 e 1975 desapareceu até da memória dos que o tentaram
construir. Agora a extrema-esquerda portuguesa, ou aquilo que aqui passa por
extrema-esquerda, reclama que a Confederação Geral do Trabalho faça uma
revolução que os sindicatos não querem fazer e que nós somos impotentes para
prosseguir.
Sejamos realistas. Olhemos para este lugar com uma visão diferente e pensemos tudo de novo, porque Portugal não existe.
A África é a próxima meta da OTAN que oculta os pretextos da expansão global dos E.U.A.
Sejamos realistas. Olhemos para este lugar com uma visão diferente e pensemos tudo de novo, porque Portugal não existe.
PORTUGAL e a LUSOFONIA será este o nosso Futuro?
Sobre a forma como
a “Europa do Norte” olha para a Europa do Sul e da falta de um “Sentimento
Europeu”
Todas estas notícias que agora abundam em meios
anglo-saxónicos e germânicos sobre a situação financeira nos países do sul da
Europa e, sobretudo, de Portugal, resulta em grande medida de um acumular de
preconceitos que têm muito de racistas. É isso que acaba por dizer o embaixador
de Portugal em França, Francisco Seixas da Costa, num artigo publicado
recentemente no jornal “La Tribune”.
Estes preconceitos contra Portugal sempre inquinaram a
opinião dos países do norte da Europa contra Portugal e contagiaram agora as
agências de rating e até os elementos mais imbecis da “Comissão Barroso”.
O embaixador recorda que Portugal – ao contrário da
Grécia – nunca falsificou orçamentos nem contas públicas e que – ao contrário
de muitos países – nunca deixou de honrar todas as suas obrigações
internacionais e financeiras. Seixas da Costa recorda que os europeus do norte
que na década de oitenta diziam que Portugal não tinha condições para se juntar
à CEE e que na década de 90 alegavam que o país não se devia juntar ao euro,
são agora os mesmos que o comparam à Grécia e a Espanha…
Um destes cépticos foi Jacques Chirac
que terá confessado achar que os portugueses eram todos “analfabetos”.
Ora se esta é a gente que domina a União Europeia, agora que no Tratado de
Lisboa, assume uma forma mais federalista do que nunca, então será que devemos continuar a olhar para
estes europeus do norte como verdadeiros parceiros?
A Europa do Norte nunca foi capaz de olhar para a Europa
do Sul com verdadeiros sentimentos de comunhão e comunidade e não o fará nunca.
E se assim é, nunca haverá uma verdadeira “União Europeia”, mas uma “Federação
Europeia” dominada pelo diretório dos Grandes do Norte da Europa.
E desta “Europa”, Portugal não deve fazer parte… Abrindo assim
pensamento, estratégia e motivação para buscar outras vias. Nomeadamente na
Lusofonia.
Portugal na estratégia Alemã, aproximação a Lusofonia
Estratégia
da Alemanha, por conseguinte, ainda está bloqueado no paradigma da UE. No
entanto, se o paradigma UE se tornar insuportável, então outras estratégias
terão de ser encontradas. A relação russo-alemão já existe e está se
aprofundando. Alemanha pensa da mesma no contexto da União Europeia, mas, se a
União Europeia se enfraquecer, a Rússia se torne alternativa natural da
Alemanha.
A África é a próxima meta da OTAN que oculta os pretextos da expansão global dos E.U.A.
Martin Schulz, eurodeputado alemão que é o
novo presidente do Parlamento Europeu, teorizou sobre o “declínio de Portugal”
e criticou as suas relações com Angola, mas a sua chanceler privilegia relações
com o Estado Angolano.
A senhora Merkel
tornou-se a primeira chefe de um governo alemão a visitar Angola à frente de
uma comitiva de 110 pessoas. A chanceler, que se deslocou igualmente ao Quénia
e à Nigéria já no âmbito de uma estratégia organizada em relação a África,
prosseguiu desta maneira a reativação das relações especiais políticas,
económicas e comerciais entre Berlim e Luanda que foram perturbadas pela crise
de 2008 mas já vinham registando avanços desde a visita oficial de José Eduardo
dos Santos a Angola em 2009. Essa foi também a primeira visita de um chefe de
Estado angolano a Berlim.
Embora estando ainda no
período inicial da sua presidência do Parlamento Europeu, o eurodeputado alemão
social democrata Martin Schulz considera que Portugal deveria privilegiar mais
as suas relações no espaço europeu e não tanto com países de outros
continentes, designadamente com Angola.
No entanto, a visita da
sua chanceler a Angola decorreu apenas um mês depois de Berlim ter aprovado uma
“estratégia para África” após um longo trabalho de reflexão que envolveu todos
os ministérios federais, os grupos parlamentares, associações do sector privado,
fundações, organizações não governamentais, agentes culturais, igrejas,
sindicatos e especialistas. Angola foi o país escolhido para o início da
aplicação desta nova estratégia alemã.
De acordo com o ministro
dos Negócios Estrangeiros, “a estratégia para África deve assegurar sobretudo a
coerência da política do Governo Federal” em relação ao continente e “a projecção da Alemanha em África de uma maneira uniforme”.
O ministro considera
ainda que em África “presenciamos talvez a confirmação mais fascinante de um
mundo em mudança”, pelo que “queremos abrir um novo capítulo nas relações com o
continente vizinho” num espírito de parceria. Peter Hintze, secretário de
Estado parlamentar do Ministério da Economia, definiu este objectivo como “uma
parceria justa” na qual “questões económicas e recursos energéticos e naturais
desempenham um papel central no nosso conceito de África”.
Na sua visita a Angola,
a chefe do governo alemão avistou-se com o presidente José Eduardo dos Santos e
assinou um Memorando de Entendimento e uma Declaração de Intenções dos dois
governos nos domínios da política, economia, educação, ciência e tecnologia.
Avistou-se também com representantes da sociedade civil e com o presidente da
UNITA, Isaías Samakuva.
Deputados da delegação
encontraram-se com o presidente da Assembleia Nacional e com representantes de
todos os grupos parlamentares nela representados.
Angola é o terceiro
parceiro comercial da Alemanha na África Subsariana a seguir à África do Sul
e à Nigéria.
Empresas industriais alemãs estão cada vez mais
interessadas em investir em Angola e os dois países têm igualmente relações
muito activas no domínio da Agricultura. O ministro angolano da Agricultura,
Pescas e Desenvolvimento Rural, Paulo Canga, visitou Berlim em Janeiro último e
discutiu com representantes alemães a cooperação futura no domínio agrícola
numa perspectiva da diversificação da economia de Angola e da criação de postos
de trabalho nas zonas rurais.
Perante os
cenários atrás expostos poucas alternativas restam a PORTUGAL.
- A EU em declínio com a Alemanha com um pé cá um pé lá (EEUU).
- Os países Mediterrânicos pouco interessados em Portugal
- A possível saída da Inglaterra da EU
- A crise económica e a queda do EURO
- A Nossa localização muito longe do centro da Europa e da nova EEUU
- A ultima reunião do Club Med (Espanha, Itália, Grécia) em que Portugal não foi convidado
Aonde as nossas pseudo elites nos levaram
Talvez a solução passe por meter uma cunha ao Senhor para mandar o D. Dinis o pai da nacionalidade, para reorganizar estes País novamente que
deixou de ser uma Nação.
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